Quinta-feira, 21 Novembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: Não chora filha, vai estudar no Privado!

Por admin-sn
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ANABELA MASSINGUE

(anmassingue@gmail.com)

NA última sexta feira, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) divulgou os resultados dos exames de admissão referentes ao ano académico 2024. Era um momento bastante esperado por aqueles que escolheram este estabelecimento de ensino para se formarem.

Historicamente, esta universidade é bastante concorrida. Aliás, a cede pela formação que caracteriza a sociedade moçambicana nos últimos tempos, a reputação que o estabelecimento sexagenário tem, bem como os custos fazem dela a primeira opção de muitos candidatos ao nível nacional.

Depois de tomar conhecimento da divulgação dos resultados por via de plataformas digitais, na noite de sexta-feira, recordei-me de um episódio que aconteceu, no Campus principal daquela instituição, justamente num dos dias da realização das provas de admissão.

Uma mãe zelosa, a medir pela atenção dispensada à sua filha, lá estava a aguardar pelo fim das provas, para depois levá-la de regresso à casa.

Tratou-se de provas integradas em que o candidato recebe dois enunciados de disciplinas diferentes, cabendo-lhe a prerrogativa de responder às questões que achar mais acessíveis, de forma alternada, dependendo do seu nível de preparação. Por conta disso, os candidatos levavam muito tempo nas salas e anfiteatros. Contudo, isso não constituiu impedimento para que a mãe da candidata esperasse ansiosamente pela saída da sua educanda. Para ela, o tempo não contava. Aliás, estava a cumprir o seu dever materno.

Enquanto isso, vinha a conversa fiada e dela deu para perceber que afinal a sua educanda era nada mais, nada menos que uma adolescente de 16 anos e que não conhecia o sabor amargo da reprovação, até aquele dia.

Terminados os testes, os examinandos saíram das salas, uns com semblantes que denunciavam satisfação e sentimento de missão cumprida, com sucesso. Outros, apareciam com rostos carregados e de desânimo, sem vontade de partilhar seja o que fosse, apesar de outros terem saído ainda com cede de confrontar as respostas e, de calculadora em punho, faziam as contas da provável pontuação.

Entre os que saiam das provas estava a adolescente há muito esperada pela mãe no Campus principal da UEM. Só que a notícias que a menor levava, não era a que a mãe esperava e muito menos ela própria.

A adolescente nada comentou, mas os sinais disseram tudo, apesar de se admitir que possa ter sido uma falsa avaliação do seu próprio desempenho. Ela chorava copiosamente e atirou-se ao colo da mãe em busca de consolo, depois das três horas de exposição do seu “cerebrinho” à  “tortura” por conteúdos que provavelmente não lhe eram familiares. Pelo enredo criado, ali não havia espaço para palavras, tudo estava claro. Mas a mãe tinha que, por obrigação, dizer alguma palavra porque só o gesto não seria suficiente para acalmá-la. Afinal esse era mesmo o seu papel naquele momento e naquelas circunstâncias.

A forma encontrada para restituir a calma foi abraçar a menina, passar a mão nas suas costas, dizendo: “Não chora filha, vai estudar no privado!”, mencionando o nome de um instituto que é uma grande referência, na praça.

A mensagem transmitida à filha pode não ter caído bem aos ouvidos de outros candidatos na mesma situação de sua filha, porém sem alternativas.

Provavelmente, no ensino privado ela não passaria pela “tortura psicológica” como aconteceu na UEM, mas quero acreditar que o estabelecimento em causa, não devia ser visto como refúgio de quem se dá mal em instituições de ensino público, onde as provas de admissão são determinantes para o ingresso.

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