Segunda-feira, 23 Dezembro, 2024
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REFLEXÕES DA MUVALINDA: Erros inadmissíveis estão na moda, pois não?

Por admin-sn
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Cândida Muvale

DIZ-SE por aí que “errar é humano”, “só erra quem aprende”, “só comete erros quem trabalha”, etc. Até  certo ponto concordo com essas afirmações, até porque sou Licenciada em Psicologia e, ao longo da minha formação, estudei diferentes teorias de aprendizagem, a destacar a teoria behaviorista que, em linhas gerais, defende que a aprendizagem é o resultado de um processo de condicionamento em que as respostas ou reacções são associadas a estímulos, estabelecendo uma conexão entre o estímulo e a reacção conseguidas após várias tentativas e erros.

O psicólogo Edward Thorndike elaborou uma pesquisa em que fez uma “caixa quebra-cabeças” e estudou como os gatos aprenderam a escapar da caixa, onde concluiu que era através de tentativa e erro, propondo assim a Teoria de Aprendizagem por Tentativa e Erro.

Uppss! Acho que me estou a empolgar demais, pois não é necessariamente acerca de teorias de aprendizagem, teóricos e experiências da área que quero hoje abordar e atiçar a reflexão dos queridos leitores.

Nos últimos tempos têm se tornado moda, termo este que têm diferentes sentidos: na estatística é o valor que aparece com maior frequência num conjunto de dados ou em uma série de observações, no mundo da “moda” é uma palavra muito usada para designar uma forma de se vestir que é comum para muitos ou apreciada por muitas pessoas. Ou seja, é muitíssimo frequente vermos na minha visão erros inadmissíveis um pouco por todas as áreas do saber e não só, em todo o mundo, mas hoje irei focalizar-me nos que aconteceram/acontecem em Moçambique, país onde resido e sou oriunda. E passo a destacar alguns episódios de erros inadmissíveis que ocorreram/ocorrem nesta pérola do Índico:

Num passado recente acompanhamos erros de dados estatísticos sobre o recenseamento eleitoral na Província de Gaza (Sul de Moçambique) onde se alegou que os dados facultados eram falsos e correspondiam a uma projecção que “talvez” se alcançaria em 2040. Aqui nem chega a ser erro, mas sim manipulação estatística;

Em 2022, o livro de distribuição gratuita da disciplina de Ciências Sociais da 6.ª classe foi impresso com erros gravíssimos, só para citar alguns: o manual colocava Moçambique fora da África Austral, afirmava incorrectamente que esta região tem cinco países e que o Estado do Zimbabwe é geograficamente limitado ao norte pelo Mar Vermelho, que, na verdade, se localiza mais a norte de África;

Num dos serviços noticiosos da primeira televisão em Moçambique, de nome Televisão de Moçambique,TVM, a televisão mais antiga, e atrevo-me a dizer a mais conceituada do país, afirmarou-se que no Natal celebra-se a morte e ressurreição de Jesus Cristo;

Mais recentemente o Instituto de Bolsas de Estudos de Moçambique disse não ter fundos para custear as despesas de viagem aérea para mais de 30 estudantes Moçambicanos que concorreram e ganharam a bolsa para estudar na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

Após os estudantes terem visto para viver no Brasil, e terem deixado os seus locais de origem convencidos de que iriam viajar para dar continuidade aos seus estudos, são informados que já não iriam viajar por falta de fundos. Isso obrigou os estudantes a acamparem fora das instalações do IBE por 5 dias, expostos a todo tipo de perigo, reivindicando as suas passagens.

Para este caso houve um final feliz, uma vez que a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE), por sua boa vontade, pagou as passagens e no passado domingo, dia 11 de Fevereiro, finalmente viajaram para o Brasil. Mas, sinceramente, numa altura que sempre se fala que os jovens são delinquentes, os que lutam para sair da delinquência são forçados a nela terminar, por erros inadmissíveis. Como uma instituição de bolsas lança um concurso sem fundos para arcar com as despesas? E depois aparecem a dizer que houve um mal-entendido, sinceramente!

Esses são apenas alguns casos de erros inadmissíveis, para não falar da implementação fracassada da Tabela Salarial Única (TSU), dos erros ortográficos nos comunicados do Governo que circulam nos medias e redes sociais; dos erros médicos que tenho acompanhado que levam tantos cidadãos moçambicanos à morte ou agravamento do seu estado de saúde; dos tais ditos erros do Código Penal de 2019 que mais conforta do que penaliza alguns tipos de crimes e seus infractores, entre outros erros inadmissíveis que se eu for a citá-los e levá-los a peito sou capaz de virar paciente do Serviço de Fisioterapia por sequelas de AVC, devido à hipertensão motivada pelo estresse, insatisfação, revolta, raiva e outros sentimentos negativos que nos levam ao fracasso.

O que me cria ainda mais revolta é que quase ninguém é exemplarmente sancionado por todos esses erros, vivem tapando o sol a peneira, aparecem a dizer que existem sabotadores e parece que os tais não tem rosto, continuam livres proliferando os seus actos de sabotagem e assim vivemos largados na mediocridade.

Poucas vezes assumem o erro e pedem sinceras desculpas, e como Moçambicano não demora a esquecer, dias depois todos  voltam à vida normal, enquanto está tudo anormal. Enfim, essa passividade também é um erro inadmissível.

O pior é que muitos Doutores e Organizações da Sociedade Civil só fazem o diagnóstico de que as coisas estão erradas, péssimas e horríveis, porém quase nunca propõem um plano ou simples ideia de como reverter o cenário.

Talvez eu possa fazer parte desse grupo que só vive reclamando, mas podem crer que é por amar a pátria e ter o desejo de vê-la melhorar. Pois quem ama também critica, orienta, corrige e pune, não apenas bajula e lambe botas.

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