Opinião & Análise BELAS MEMÓRIAS: O destino Por Anabela Massingue Há 10 meses Criado por Anabela Massingue Há 10 meses 1,9K Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 1,9K “NINGUÉM foge ao seu destino”, diz um velho provérbio popular. Já houve quem tentou esquivar-se consciente ou inconscientemente, mas na verdade quando se trata de algo já destinado todas as possibilidades tornam-se impossíveis. As possíveis vias de escape bloqueiam-se. Com a crise económica da década de 1980 no país, a apetência dos mais jovens era partir em busca do melhor. Embora houvesse diversas alternativas, duas eram quase certeza: África do Sul e a ex-República Democrática Alemã (RDA), onde a força laboral moçambicana era bastante procurada para galvanizar as indústrias destes países. Os jovens entregavam-se sem receio porque internamente a coisa estava mesmo preta, como se diz. O verbo que mais conjugavam era “Abrir”, sinónimo de deixar a terra, a família, os estudos e rumo a realidades desconhecidas. Uns “abriam” para mais perto, legal ou ilegalmente. Com um pouco de sorte chegava-se ao destino e virava-se o quadro. Paralelamente estavam os que “abriam” para sempre, pois jamais voltaram a ser vistos e muito menos se teve pistas sobre o seu paradeiro ou mesmo sobre o seu fim. Para a ex-RDA também foram muitos, entre os quais o Tony, um jovem que tinha ainda muito a receber de seus pais para poder dar, em retribuição, mais tarde. Mas pelo aperto da vida, nasceu-lhe o espírito de aventura. Fez a inscrição à revelia dos pais, que mesmo diante das privações o seu sonho era ter um filho estudado que pudesse usar a inteligência para virar o cenário contribuindo para o seu país, nunca aquele que entregaria a sua força física em terras estranhas. Seu pai sonhava ter na família um professor, enfermeiro ou escriturário. Por isso desencorajava a aventura. Ouviu o pai e o espírito de aventura abrandou ligeiramente. Contudo, isso foi sol de pouca dura porque quando seus vizinhos iniciaram o movimento de inscrições, a ideia adormecida despertou. Novamente à revelia inscreveu-se, viajou até ao ponto de partida mas lá nem água vinha, nem água ia. O tempo das aulas se aproximava e entre perder as duas coisas, decidiu regressar à procedência para retomar as aulas, o que o seu pai sempre quis. Os mais persistentes permaneceram à espera de melhores dias e conseguiram rumar para o velho continente. Porque realmente do destino não se foge, um ano depois Tony foi à capital do país por outras razões. Parecia ter vencido o espírito aventureiro que o perseguia: debalde. Depois de ver, no Círculo do bairro da Polana-Cimento, actual Distrito Municipal Ka Mpfumo uma multidão, maioritariamente constituída por jovens de ambos os sexos, se aproximou e inscreveu-se, foi seleccionado e assim se juntou aos outros. Poucos anos depois, a reunificação das duas Alemanhas e todos os caminhos indicavam para o regresso à casa com o encerramento de muitas firmas. Não restava mais nada que embalar tudo e regressar. Nesse processo, porque estava traçado o Tony foi sobrando. Procurou oportunidades possíveis para se reenquadrar e voltar à casa com as melhores condições já criadas. No lugar veio o casamento, em terras estranhas, sem testemunho de nenhum membro da sua família que era a razão da sua aventura. Vieram filhas e netos e o Tony não mais voltou à terra onde o seu regresso foi sempre esperado, porque tudo estava assim traçado. Você pode gostar também CÁ DA TERRA: Triste fundo BELAS MEMÓRIAS: O ovo não se parte, pai! (3) A importância da comunicação interna na cultura e reputação empresarial BELAS MEMÓRIAS: O Correio da “Secundária de Xai-Xai” DESTAQUESOpinião & Análise Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior EDITORIAL Próxima artigo CÁ DA TERRA: Sacode o pasmo e expulsa o imobilismo Artigos que também podes gostar REFLEXÕES DA MUVALINDA: Quando a Saúde depende da solidariedade virtual Há 10 horas Sobre iluminação pública Há 5 dias CÁ DA TERRA: Os exemplos que temos Há 5 dias BELAS MEMÓRIAS: De facto, o crime não compensa! Há 5 dias REFLEXÕES DA MUVALINDA: Salomão Muiambo Há 2 semanas BELAS MEMÓRIAS: Forçado a regressar à casa Há 3 semanas