Terça-feira, 5 Novembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: O Correio da “Secundária de Xai-Xai”

Por Anabela Massingue
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(anmassingue@gmail.com)

UMA verdadeira festa é como os alunos celebravam o momento da chegada de correspondência, através dos Correios, na Escola Secundária de Xai-Xai. Decorria o final da década de 1980 e início da década de 1990, quando parte dos alunos dependia daquela caixa mágica que os ligava aos parentes espalhados pelo país e pelo mundo fora.

Parte dos alunos tinha seus pais a trabalhar e ou a residir na África do Sul, onde permaneciam por muito tempo. A única forma que tinham de se manter ligados a eles era somente por via de uma carta, cujo ponto de chegada era a caixa do correio de onde seus filhos ou familiares estudavam, coisa que pode não dizer nada a adolescentes e jovens da actual geração.

Para além de receberem a correspondência para si, eram igualmente o elo entre os que estão na diáspora e seus entes no interior das comunidades da vasta província de Gaza, onde o correio nem sequer era conhecido. Igualmente a correspondência vinha de muitos outros lugares interna ou externamente.

Importa dizer que quem recebia uma carta vivia uma sensação diferente, o resto do dia, dependendo do tipo de novidade que encontrava na sua missiva. Mesmo quando fosse para fazer chegar aos demais, havia motivo de satisfação, pois isso conferia-lhes auto-estima e responsabilidade.

Na escola, o ponto de chegada era uma caixa de correspondência montada para os devidos efeitos, numa vitrina localizada junto ao ginásio. Depois dos envelopes estarem devidamente depositados na caixa com o número postal, iniciava a celebração. Entre os mal intencionados, até havia espaço para violar correspondência alheia.

Os namorados, por exemplo, e/ou candidatos a namorados também tentavam a sorte por via do Correio da Escola, pois sabiam que as suas pretendidas ou “namoradas”, por aquela via receberiam a correspondência.

Porque alguns dos potenciais candidatos a namorados andavam por perto e atentos à celebração, não faltavam motivos de ciúmes que, de forma doentia, concorriam para a violação e posterior destruição das cartas, tudo para evitar a fluidez da comunicação.

As cartas chegavam de forma esporádica. Não era à velocidade do watsApp da quarta geração, que numa sala de aula, na rua, na mesa em plena refeição ou mesmo no quarto a dormir se pode receber.

Marinela era a sortuda cada vez que o homem dos Correios escalava a “Secundária de Xai-Xai”. Para ela, não faltava motivo para sorrir, porque de qualquer destino sempre ia um envelope com selos e vários carimbos estampados e o seu nome ostentado na face reservada ao destinatário. Umas vezes eram seus pais, irmãos e primos na terra do rand ou um amigo dos tantos que ela tinha como resultado da sua simpatia sem fronteiras.

Este facto também deixava enciumados alguns colegas da Escola que apreciavam não só a sua simpatia como também alguns atributos que já na fase de adolescência faziam os demais prever o futuro dela como uma mulher, que qualquer homem gostaria de ter.

Interessante era como Marinela digeria o conteúdo da sua correspondência. Primeiro sozinha, num canto e, posteriormente, dependendo da novidade contida nas cartas, fazia-no na companhia de colegas, alheios ao assunto, desde que achasse motivos que justificassem a exibição ou que despertassem alguma cobiça.

A mágica caixa do correio, hoje enferrujada e ou inexistente, tinha um grande significado e importância que jamais serão entendidos ou assim considerados pela nova geração.

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