Domingo, 22 Dezembro, 2024
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REFLEXÕES DA MUVALINDA: Tudo bem?!

Por Jornal Notícias
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Cândida Muvale*

SAUDAR as pessoas faz parte das boas maneiras, é sinal de respeito e educação. Africanamente falando, as saudações fazem parte da nossa cultura e para algumas etnias ela é prolongada, pois questionam se está tudo bem com os animais, as machambas, enfim, tudo o que podes imaginar, e nota-se um desejo genuíno em querer de facto saber se a outra parte está realmente bem. É hábito para vários africanos saudar até as pessoas desconhecidas ao longo da estrada.

Actualmente, as culturas vão sofrendo mutações por vários motivos como a globalização e o carácter dinâmico da própria cultura, mas a saudação continua a resistir, se bem que em certos lugares do mundo as pessoas são frias e já não se saúdam. Tenho visto isto em grandes cidades como na  capital de Moçambique, Maputo, onde vivo. As pessoas estão num corre-corre diário e acabam se esquecendo do básico como saudar o outro.

Tenho o hábito de saudar a todos e, vezes sem conta, ao entrar no transporte público saúdo o motorista e o cobrador. Certa vez, um motorista, visivelmente emocionado, disse: “menina, desde que comecei a trabalhar às 4h00h até agora, 17h00, és a primeira pessoa que me cumprimenta. Muito obrigado”.

Isso é sinal de que precisamos de melhorar a cordialidade, principalmente com aqueles que nos servem, mesmo quando estamos a pagar pelo serviço. Precisamos de saudar aquela senhora do mercado que nos vende hortaliças, os nossos empregados que cuidam da casa e escritório, os polícias de patrulha quando por eles passamos na rua, e por aí em diante.

Acreditem, é um gesto simples, aparentemente insignificante, mas que impacta bastante na vida das pessoas. Acima de tudo, precisamos de ensinar as crianças desde tenra idade a saudar os mais velhos.

O que trago à reflexão é sobre a pergunta “tudo bem?” É comum que ao saudar façamos essa pergunta, mas será que perguntamos porque queremos realmente saber como a pessoa está ou é por mero hábito?! E quando respondemos “tudo bem, sim” ou “tudo bem graças a Deus”, está realmente tudo bem?! Ou é também por mero hábito e agimos no automático? Se porventura nada estiver bem, terás coragem de dizer? E quando perguntamos temos o desejo genuíno de realmente saber o estado do nosso interlocutor?

Parecendo que não, essa é uma pergunta deveras interessante e eu já nem gosto de a fazer. No consultório (creio que todos vocês sabem que sou psicóloga), quando faço essa pergunta muitos respondem automaticamente que sim, mas depois expõem situações deveras preocupantes. E, por vezes, digo por ironia: parece que não está tudo bem como afirmaste. Talvez este exemplo não é dos melhores, pois, na consulta de psicologia, normalmente as pessoas não vão felizes da vida e para contar apenas aspectos positivos, é um lugar seguro para exprimir os nossos sofrimentos, dores e inquietações. Porém, mesmo assim, quando perguntas se está tudo bem, poucos respondem, “a priori”, que não estão bem.

Bem, com este texto não gostaria de excitar aos meus queridos leitores a abandonarem esta prática de saudação, apenas pretendo que, a partir de hoje, sejamos, de facto, mais intencionais e empáticos ao fazer este questionamento e a respectiva resposta. Pretendo que a intenção seja, de facto, saber como a pessoa está e não por puro hábito, como também ao corresponder à saudação possamos dizer como realmente estamos, pelo menos às pessoas mais próximas e que sabemos que se importam connosco.

E como a Bíblia realça em Romanos 16:16: “Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam”.

*Psicóloga e activista social

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