Domingo, 7 Julho, 2024
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REFLEXÕES DA MUVALINDA: Perfeição

Por Jornal Notícias
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Cândida Muvale*

SEMANA passada quase fui agredida fisicamente por um mal-entendido do qual fui promotora. Comentei com alguém de forma inocente que via a pessoa e o parceiro como muito opostos e admirava o facto de estarem juntos expondo com exemplos o que notei de diferente em ambos. Depois descobri que pela minha fala dei a entender que a pessoa merecia algo melhor. Mas não era minha intenção ser percebida desta forma, pois estava apenas a tecer um comentário que não me pediram e hoje me arrependo por isso, enfim, vivendo e aprendendo.

O facto é que a pessoa em questão contou ao seu parceiro e este, por sua vez, deixou o que estava a fazer e veio imediatamente ao meu encontro ajustar as contas. Hoje me lembrando, vejo a situação como engraçada, mas na hora gelei. A pessoa disse que não gostou dos comentários, ficou desapontado, sobretudo por ter sido feito por uma psicóloga. Tentei argumentar, mas sem espaço, e terminei por pedir desculpas que não foram aceites, e ainda por cima tive a porta batida na minha cara sem despedida.

Falo demais, defeito de fabrico, e sinceramente vezes sem conta não tenho noção do quão as minhas palavras impactam nas pessoas. Esse defeito já está a ser trabalhado em terapia e com muita oração, tanto que sinto que melhorei bastante. O que agrava a situação é o facto de ser psicóloga. As pessoas ficam com muitas expectativas de que terei domínio próprio e serei exemplo de perfeição, daí que ficam demasiado desapontadas perante um erro da minha parte.

De acordo com o dicionário de língua portuguesa, “perfeição” é a qualidade do que é perfeito, ou seja, a ausência de defeitos ou erros, a excelência em algo. Também pode se referir a algo completo, acabado, sem falhas.

Na verdade perfeição é um conceito subjectivo, cada pessoa pode ter a sua própria definição do que é perfeito. Para alguns, pode ser algo sem falhas ou erros, enquanto para outros pode ser a beleza de algo simples e autêntico.

O episódio que narrei no início não é o primeiro e não será o último em que sou julgada e exigida perfeição por causa da minha profissão. É compreensível que esperemos um alto nível de competência, empatia e ética dos psicólogos, afinal, lidamos com questões delicadas que impactam vidas. Mas exigir perfeição dos psicólogos é uma expectativa irreal, já que todos nós, incluindo os profissionais de saúde mental, somos seres humanos passíveis de cometer erros. No entanto, a busca pela melhoria contínua e pelo aprimoramento profissional é essencial, mas é importante lembrar que a perfeição absoluta não é possível para ninguém. E naquele comentário em particular, eu não estava a ser psicóloga mas sim cidadã comum, embora seja difícil separar essas duas coisas quando se trata de mim.

Um versículo bíblico que se encaixa como luva no texto de hoje está em Tiago 3:2, que diz: “Pois todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo”. Nesse contexto, o versículo destaca que “todos tropeçamos de muitas maneiras”, o que indica que ninguém é perfeito. A referência àquele que não tropeça no falar como sendo “perfeito” pode ser entendida no sentido de que, apesar das imperfeições humanas, é possível alcançar um alto grau de controlo e sabedoria na comunicação. Essa passagem ressalta a importância do cuidado com as palavras, mas não nega a realidade da imperfeição humana.

Que Deus possa me dar discernimento e domínio de modo a controlar o meu falar independentemente das circunstâncias.

*Psicóloga e activista social

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