Domingo, 22 Dezembro, 2024
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Da decepção à troca de armas por mortos! (1)

Por Jornal Notícias
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Edmundo Manhiça*

QUEM entende a lógica do pensamento dos “otanistas” europeus e outros, quando afirmam que a Ucrânia tornar-se-á membro da OTAN, quando vencer a Rússia militarmente, que levante a mão! Em verdade, não me dirijo a alguém, isto é somente uma voz que sobe cada vez mais de tom na cachimónia de muitos. O que bem entendi da Conferência Internacional sobre a Paz na Ucrânia (Cimeira da Paz), que decorreu de 15 a 16 de Junho de 2024, na cidade turística de Burgenstock, na Suíça, tratou-se, aparentemente, de uma gala de angariação de fundos para a continuação da troca de armas por mortos. 

Na Suíça discutiu-se a paz, tendo como base a fórmula de paz ucraniana. Outras propostas, que dificilmente teriam sido contornadas, são de Putin e Xi Jinping. Porém, o resultado foi decepcionante: nenhuma iniciativa específica de paz foi apresentada. A “Fórmula Zelensky”, considerada “consistente com o direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas”, exige a transferência do controlo da central nuclear de Zaporójie (agora sob o controlo da Rússia) para as mãos de Kiev, a retirada das tropas russas do território da Ucrânia e o respeito pela sua integridade territorial. 

Por sua vez, o “Plano Pútin”, avançado no dia 14 de Junho, na véspera da cimeira, requer que a Ucrânia retire as tropas para além das fronteiras administrativas das regiões (novas da Rússia) da República Popular de Donetsk, República Popular de Lugasnk, e das províncias de Kherson e Zaporójie. À luz deste mesmo plano, que causou discussões acaloradas e foi sujeito a condenações pela maioria dos participantes, bem como mereceu aprovação, por outros, pretende-se que a Ucrânia anuncie publicamente a sua recusa em aderir à OTAN. Moscovo quer que Kiev fixe o seu estatuto neutro e livre de armas nucleares, reduza o exército e restaure os direitos dos falantes de língua russa. 

A propósito, uma outra proposta que não passou despercebida, a da China, em conformidade com a qual Moscovo e Kiev devem cessar o fogo imediatamente e sentar-se à mesa de negociações sem condições prévias. Os planos de Zelensky e de Pútin excluem-se mutuamente. Precisa-se de muita engenharia diplomática, e não militar, para que as negociações sejam encetadas e as partes beligerantes se aproximem, o que é de total interesse tanto dos russos como dos ucranianos. 

Alguns articulistas chegam a defender que os planos “só podem ser concretizados sob uma condição: “quando um lado sofrer uma derrota grave e o outro tiver a oportunidade de impor todas as suas exigências pela força”. O certo é que, à partida, para a OTAN, que tanto prega a doutrina de “derrota estratégica da Rússia” ou, por outra, de “impedimento a todo o custo da vitória dos russos”, essa fórmula, como se apresenta, pode ser mais um tiro pela culatra, semelhante a tantos outros disparados anteriormente. 

A “derrota grave” é, por ora, nitidamente visível de um lado: vejamos o desarranjo estomacal que a presença dos vasos de guerra russos em Cuba provocou, para já não mencionar a decisão de Moscovo de armar os inimigos dos Estados Unidos (principalmente os chamados “ditadores”, por não seguirem as regras ditadas por Washington hegemónico), em resposta à luz verde dada a Kiev para o ataque de alvos em solo russo, usando o material bélico da OTAN. Só esta autorização, que é reacção peremptória a uma situação real no teatro de guerra, é suficiente para se afirmar que, efectivamente, a “derrota grave” não é um mito.

* PhD Especialista em Problemas Políticos dos Sistemas Globais de Desenvolvimento

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