Domingo, 6 Outubro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: Tony na Clínica

Por Anabela Massingue
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DEPOIS da estória da indiferença dos médicos e ou enfermeiros pela qual o meu amigo Tony passou, quando caiu do cavalo para o burro, abandonando o tratamento numa luxuosa clínica para um hospital público, por falta de dinheiro, hoje trago mais peripécias daquele tipo de ambientes.

Contou-me o meu amigo que a ideia de pedir, antecipadamente, as suas contas mesmo antes de receber a alta hospitalar não surgiu a toa. É que uma vez lá, teria recebido visita de uma amiga que lhe contara algo assustador, relacionado com um familiar que tinha passado por uma clínica, acompanhado.

Na hora da visita, os seus parentes sempre levavam o farnel preparado em casa ao requinte por pensar na delicadeza do paciente. A mesma comida era também servida  à acompanhante que prestava assistência. Mas como a comida não chegava à mesma hora, quer o doente internado quer a acompanhante aceitavam e degustavam da comida servida pela clínica.

Tratava-se de uma gastronomia que deixava água na boca para qualquer um, só pelo aroma, mesmo uma simples sopa. Alguns visitantes que lá conseguiam chegar, sem nada para dar ao doente, como mandam os nossos costumes, não se constrangiam por não terem merenda, sempre que coincidissem com a hora da comida porque até lhes apetecia “djecar” como sói dizer-se.

O paciente, familiar da amiga do Tony, estava convencido que aquele carinho e dedicação fazia parte da cortesia do hospital, tendo em conta os balúrdios de dinheiro que devia pagar pelo internamento e que já sabia antes de ser submetido à cirurgia que para lá o levara.

Ele e a acompanhante comiam à fina e à francesa. Até davam recados sugestivos do reforço da sobremesa, pois várias vezes lhes foi servido maçã e laranja esponjosas. A ideia era que a tal empresa de “catering” melhorasse, trazendo outro tipo de fruta, diferente daquela maçã e/ou laranja.

Enquanto se respondia aos gostos do doente e sua acompanhante, a conta ia engordando dia-após-dia e quando se concedeu a alta, não havia capacidade para pagar, porque no Banco não havia mais nada para além da reservada para pagar o internamento. Desse valor não se incluíam as despesas “adicionais” como comida e as bebidas não alcoólicas, claro.

Para não deixar o doente em “maus lençóis”, familiares e amigos mais chegados tiveram que se mobilizar numa acção de solidariedade e angariar dinheiro para saldar a dívida com a clínica, uma vez que ele não tinha nenhum plano de saúde, senão a poupança que fazia para desenvolver um projecto que ficou adiado, para sempre.

Uma vez fragilizado pela doença que passou a ser crónica, já não tinha energias para fazer o seu trabalho por conta própria e juntar mais recursos para concretizar o seu sonho de comprar embarcações para o negócio de pesca.

A amiga do Tony assumiu que nenhum paciente sem posses devia se atrever em procurar cuidados de saúde nas clínicas privadas, sob pena de passar por estas situações, pois aqueles lugares, pensa a amiga do Tony, são para pessoas abastadas.

Mas numa situação de aflição, em que no hospital público não se encontra solução à altura, desde uma simples consulta, passando pelo diagnóstico para não falar do tratamento, que saída se pode encontrar?

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