Domingo, 8 Setembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: Os líderes de desinformação

Por Anabela Massingue
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NESTAS coisas de convivência social acontecem fenómenos inusitados, alguns dos quais não passam despercebidos e nem permitem a indiferença.

Em cada grupo de pessoas movidas por interesses comuns, seja na busca de um serviço, nas igrejas, local de trabalho ou mesmo onde aparentemente nada se faz, há sempre alguém talhado para falar e influenciar, a todo o custo.

Porque literalmente não conseguem permanecer calados, sobretudo em viagens relativamente longas, esses indivíduos se ocupam em comentar tudo o que acontece à sua volta e, quando não acontece nada, sempre vão criar um tema ou partir para algo, mesmo sem sentido.

São pessoas que gostam de ser ouvidas e de saber que estão a despertar a atenção da sua audiência e quando isso não acontece se sentem até frustrados, porque elas é que devem pilotar a nave da cavaqueira e levar consigo seguidores.

Comentam um pouco de tudo. Desde assuntos políticos, domésticos, do fórum da saúde e mesmo quando não têm evidências procuram, com falsa informação, influenciar e serem seguidas por quem as ouvem.

Comentam sobre a gripe que, por estas alturas do ano ocorre. Neste caso, não há quem não vá prestar atenção, pois também não há quem não tenha no seu meio alguém a braços com esta doença.

Elas querem só por querer que a audiência entenda e assuma que estas gripes não estão relacionadas com a mudança do tempo ou outros fenómenos naturais associados como a poeira, aglomerados em lugares fechados por conta das baixas temperaturas e remetem-nos a um passado avassalador, cuja memória continua fresca: a Covid-19.

Os “líderes informais” nas conversas até falam de novas variantes, embora não mencionem os nomes. Para convencerem ainda mais e causar interesse que possa gerar pânico, falam de países com forte ligação com Moçambique que se ressentem do problema.

Porque entre os seus ouvintes há sempre alguém que aparece a questionar evidências, neste caso do tema sobre a doença, e alertar para pararem de desinformar e alarmar, eles se revoltam, pois está sendo posto em causa o exercício da sua liderança no seio do público-alvo.

Estes “líderes informais” não gostam de opinião contrária. Eles querem levar os debates até ao fim e um melhor debate, para eles, é aquele que termina com muitos apoiantes a defenderem as suas opiniões. Ai devem começar muito bem o dia e com mais vontade de continuar, em outros ambientes favoráveis.

A minha amiga Joana tem estado num ambiente em que nunca falta um líder de conversa em busca de influência. Nas suas idas e/ou regresso do trabalho é diariamente confrontada com esta realidade, mas sempre pautou pelo silêncio e indiferença, mantendo apenas os seus ouvidos activos e os olhos também, a contemplar.

Conta que apesar desta sua característica, há momentos em que a inquietação lhe arrasta para reacção, quando não mais suporta ouvir inverdades. O mais grave é quando vê muita gente a ser conduzida para a falsidade e a assumir o que não devia.

Conta que isso lhe incomoda bastante, sobretudo num assunto delicado quanto o é a Covid-19, doença que, na verdade, sempre existiu, mas não sob forma de impacto avassalador vivido há poucos anos. Sendo profissional de saúde, ela nega ouvir algo tão desajustada da realidade que vive no seu dia-a-dia. Nessas circunstâncias, a minha amiga prefere cortar as asas do disseminador de inverdades, publicamente, de modo a não voar para outras altitudes, como mensageiro de desinformação.

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