Sexta-feira, 15 Novembro, 2024
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ABASTECIMENTO DE ÁGUA: Consumo ilegal e perdas afectam expansão da rede

Por Jornal Notícias
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ELÍSIO MUCHANGA

PERTO de metade da água tratada para ser distribuída aos mais de dois milhões de consumidores da região metropolitana do Grande Maputo perde-se devido ao consumo ilegal e obsolescência da rede de abastecimento.

Trata-se de uma situação que dura há anos e tem estado a retroceder os esforços do Governo e operadores privados de alargar o fornecimento deste recurso, principalmente nos bairros de expansão.

Por outro lado, uma boa proporção da água não é contabilizada, situação que leva a mais perdas na facturação, prejudicando os operadores, tanto públicos como privados.

O consumo ilegal, a vandalização e baixo investimento na manutenção são alistadas como as principais causas do fenómeno, num mercado onde o número de provedores privados cresce e mais de 70 por cento exerce actividade de forma ilegal.

Claudia Tembe, 40 anos, mãe de cinco filhos e proprietária de um furo de água na zona de Tchumene II, no bairro Matola Gare, é o caso mais evidente do uso de água da rede não contabilizada, situação com fim trágico.

Cláudia e o marido dedicavam-se à venda de água do furo. O que ela não sabia é que o esposo havia feito uma ligação clandestina da água da rede pública para um dos tanques do seu sistema, do qual procedia à sua revenda.

Conta que o operador misturava a água meio salubre do furo com a roubada da Águas da Região Metropolitana de Maputo (AdRMM), criando ilusão aos clientes que sequer sabiam que estavam envolvidos numa ilegalidade que prejudicava o Estado.

O fim trágico contado na primeira pessoa começa quando o marido da Cláudia morre. Meses após o infortúnio, técnicos da empresa pública foram à sua casa exigindo-a que provasse a proveniência da água por si comercializada. Na inocência, serviu a água do “tanque da desgraça” e foi ai onde o inferno começou.

Feitas as buscas foi detectada a ligação clandestina e ela foi imediatamente detida.

“Fui levada à esquadra e cobrada 200 mil meticais de compensação à empresa, mas não tinha o valor. Permaneci nas celas até que os meus familiares vendessem alguns bens que o meu marido havia deixado para a minha soltura, mas já era tarde”, relata.

Quando a família reuniu os 200 mil exigidos, a prisão havia sido legalizada e o valor da caução subiu para 350 mil. Não dispondo de condições para pagar, recolheu ao Estabelecimento Penitenciário Feminino de Ndlavela, onde passou os três meses mais torturantes da sua vida por roubo de água.

Já em liberdade, apela aos que ainda praticam esta ilegalidade a abandonar a prática. “Deixem de roubar água, não gostaria que passassem pelo que  passei. Deixei os meus filhos e perdi parte dos meus bens por algo que podíamos ter evitado”, disse.

A história de Claudia é apenas um reflexo do que ocorre um pouco por todo país e região do Grande Maputo. Nos últimos dois anos, por exemplo, a AdRMM levou ao tribunal mais de 120 casos de roubo de água, dos quais 23 foram julgados e os infractores condenados a indemnizar a empresa em 1,35 milhão de meticais.

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