Sábado, 14 Setembro, 2024
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REFLEXÕES DA MUVALINDA: Quem cuida do cuidador?!

Por Jornal Notícias
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SOU psicóloga, profissional de saúde mental e no exercício da minha profissão ajudo pessoas em situações sensíveis quer sociais, familiares, pessoais, de relacionamento, aprendizagem, etc. Embora seja uma profissional formada para melhor acolher e tratar o sofrimento humano, é natural que no processo psicoterapêutico haja comoção, fiquemos com um pouco do que é partilhado pelos pacientes, este processo designa-se de transferência e contra-transferência. A transferência refere-se ao processo em que um paciente projecta sentimentos, desejos ou expectativas sobre o terapeuta, muitas vezes baseados em relacionamentos passados. Nisso a contra-transferência é a reação do terapeuta a essa transferência, que pode incluir sentimentos pessoais que surgem em resposta ao que o paciente traz.

Por isso é que aconselha-se para que todos os psicólogos também façam psicoterapia de modo a melhorarem a sua qualidade de vida e performance no trabalho, pois não é tão fácil como possa parecer acolher a vulnerabilidade das pessoas quase todos os dias.

Profissões como médicos, enfermeiros, psicólogos, etc, que envolvem cuidado com sofrimento, pela natureza do trabalho, os profissionais também ficam vulneráveis, muitos tendem a sofrer de depressão, ansiedade e até síndrome de “burnout”, ou seja, o trabalho acaba adoecendo o cuidador.

O que me deixa triste é o facto de muitos gestores públicos não olharem para os cuidadores com empatia suficiente e lhes proporcionarem condições de trabalho adequadas para minimizar o impacto estressante do trabalho.

Profissionais de saúde quando adoecem não têm o devido cuidado, apesar de existir a consulta do trabalhador, muito ainda se deve fazer para salvaguardar a saúde dos nossos profissionais de saúde, pois eles também estão expostos a adquirir infecções no exercício das suas actividades laborais.

Outra dimensão do cuidador, são as nossas mães, principalmente as lactantes que cuidam dos seus bebés 24 horas, e quando acaba o período de licença de parto devem deixar os bebés para cuidado de terceiros e voltarem ao contexto laboral o que faz com que muitas tenham sentimentos de culpa e isso piora quando a criança tem alguma necessidade educativa especial. Por vezes essas mulheres não têm uma rede de apoio sólida, nem sempre o patronato percebe da demanda que um bebé recém-nascido exerce para a sua colaboradora e não tem sensibilidade para tratá-la de forma especial nesse processo.

Quem cuida do cuidador?! É uma pergunta muito importante, pois muitas vezes, quem cuida dos outros acaba negligenciando seu próprio bem-estar. É essencial que os cuidadores também tenham apoio, momentos de auto-cuidado e espaços para expressar as suas emoções. Isso pode incluir terapia, grupos de apoio ou simplesmente reservar um tempo para actividades que tragam prazer e relaxamento.

Cuidar de si mesmo não é egoísmo; é uma forma de garantir que você possa continuar a cuidar dos outros de maneira saudável e eficaz.

Um versículo que pode trazer conforto sobre cuidar dos outros é 1 Pedro 5:7: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” Esse versículo lembra-nos que mesmo quando estamos preocupados com aqueles que cuidamos, podemos confiar que Deus está cuidando de nós. É uma bela forma de lembrar que o cuidado é uma troca e que não estamos sozinhos nesse processo.

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