Quarta-feira, 18 Setembro, 2024
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EDITORIAL

Por Jornal Notícias
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O ASSASSÍNIO de uma jovem, natural de Tete, ocorrido no Dondo, Sofala, com requintes de malvadez, trouxe, uma vez mais, à tona o problema da violência contra a mulher. 

Neste caso, bastante mediatizado devido às imagens do que os próprios algozes fizeram à jovem, ficou evidente que os criminosos submetem as vítimas a actos bárbaros por mero prazer, o que nos empurra para uma reflexão sobre o fenómeno, afinal, a violência, sob diversificadas formas, contra a mulher e rapariga é assunto que diz respeito a todos.

No país, a violência contra a mulher está a tomar proporções alarmantes. Os números, pelo menos em Sofala, não deixam dúvidas. Só no primeiro semestre, as autoridades falam de 206 casos, dos quais 202 contra mulheres, sendo que muitos deles resultaram em mortes ou incapacidade permanente. São cifras que nos devem preocupar, sobretudo se atendermos que nem todos os episódios chegam às autoridades.

Os distritos da Beira, Nhamatanda, Gorongosa, Dondo, Marínguè e Caia são os que se destacam, com a particularidade de terem também um ascendente de uniões prematuras. Pelo menos 43 meninas foram resgatadas e devolvidas aos respectivos parentes… mau grado sejam, muitas vezes, os pais ou encarregados pelas raparigas cúmplices da situação.

Há ainda a referenciar a tendência de assassinato de trabalhadoras de sexo, com a particularidade de, em certos casos, estes crimes serem cometidos por reincidentes, ou seja, por pessoas antes condenadas pelas mesmas ilicitudes. 

Mas há um segmento de crimes que igualmente éestarrecedor; aqueles que acontecem na privacidade: um jovem da Manga, na Beira, entregou-se, à Polícia, depois de assassinar a esposa, com quem tivera quatro filhos, por suspeitar que não seja pai biológico das crianças.

Crime similar ocorreu no Dondo. Um jovem assassinou a esposa grávida e filho menor, por desconfiar que a gestação, então em curso, seria resultado de adultério.

São apenas exemplos que mostram a crueldade humana e que há muitas percepções quando as mulheres são agredidas pelosesposos. É preciso perceber o que leva mulheres ou homens a permanecerem nos lares, mesmo perante reiterados atentados contra a vida. 

Não tenhamos ilusões; a dor, o sofrimento e mal-estar deixammarcas, traumas, frustrações, sentimento de abandono e impotência nas vítimas, afectando a sua auto-estima e dignidade.

O medo fica arraigado no subconsciente das vítimas. Osentimento de abandono impera, sobretudo quando a pessoa sente-se coisa diante desse universo de extremismos, onde gente com entendimento tosco, sem sabedoria, nem sensibilidade, com mente deturpada, acredita que a violência é caminho para a construção de algo positivo. Quando um indivíduo se compraz com a tortura e dor humana deve ser afastado da sociedade.

É o que pedem as mulheres, porque a violência está a ser “normalizada” nos lares e não só. A violência é algo que nos deve envergonhar. Aliás, as vítimas são apontadas sempre como culpadas, fruto da obliteração de valores e falta de leis severas para este crime. 

Precisamos de rever os conceitos de convivência familiar. A violência é cruel, redutora, aviltante e constrangedora, na qual há sempre duas faces: agressor e vítima. 

Urge a mudança de paradigmas!

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