Quinta-feira, 21 Novembro, 2024
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CÁ DA TERRA: O meu/nosso Xiquelene

Por Osvaldo Gemo
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Há sabores, os bons sabores e cheiros que são como viagens no tempo, porque fazem-nos recordar, com nostalgia pedaços de vida, de emoções, de experiências.

O nosso Xiquelene, a conhecida Praça dos Combatentes, há  muito que deixou de ser esse lugar, porque é exactamente o oposto. Quando por ali se passa não resta nenhuma vontade de voltar.

Infelizmente, este é o nosso roteiro quase que diário, na maratona para o posto de trabalho.

É verdade que algumas pessoas não conseguem sentir cheiros nem sabores durante vários dias, ou mesmo semanas, sobretudo depois de um surto de gripe.

O que se passa ali, sobretudo junto à segunda rotunda, é que diariamente há um amontoado de gente a vender de tudo um pouco, completamente alheios ao cheiro nauseabundo que tresanda em toda a área circundante e ameaça a saúde pública.

É um cheiro de vários sabores. A xixi, a tangerinas e laranjas, a peixe e mais não sei o quê, numa mistura podre e explosiva.

O lixo, não falta. Também temos gente sentada no chão de forma esquisita, com a cor do sofrimento estampada no rosto, pois ali militam de sol-a-sol e nada acontece.

Só de passar parece empregnar na nossa roupa e com ele “viajamos” todo o dia, nos pensamentos.

Não me perguntem porquê continuo, mesmo assim, a usar aquele caminho. O facto é que decidimos seguir sempre em frente, talvez por cegueira ou por miopia.

Talvez uma voz, uma chamada, um acaso. Talvez nada. Xiquelene é a confluência de bairros como Polana Caniço, Maxaquene, FPLM e Ferroviário. Por isso, não deve, de modo algum ser ignorado. Ignorar o que ali se passa, soa a pecado.

Talvez seja isso, tentar partilhar um pouco daquele sofrimento, como alívio para nós mesmos.

É naquele ambiente que se vendem as alfaces, as couves, o repolho, o pão, o peixe, a tangerina e…obviamente, um pouco da nossa desgraça.

Por falar em dresgraça, que sentido tem ter sido pavimentada uma rua (da igreja ou da linha) para acomodar vendedores de roupa usada que enfrentam os automobilistas de forma arrogante? 

Este nosso Xiquelene precisa de um “banho” com lixívia e água e também de educação dos que ali frequentam. Viver assim é quase impossível. Em tempo de campanha, o à vontade das pessoas soa a exagero. Ninguém teme nada e ninguém. Quem de direito também finge que não vê para que não sejam abertas feridas difíceis de sarar.

Investimentos públicos no saneamento básico, a reorganização ou encaminhamento dos vendedores e uma melhor e adequada gestão dos resíduos sólidos são vitais para enfrentar este grave problema.

Graças a intervenção do município, vemos durante a madrugada uma equipa empenhada na limpeza do recinto, sem a qual estaria instalado o caos, pois seriam toneladas e toneladas de resíduos para atentar contra a nossa saúde. Depois de requalificada como foi, só nos restará o cartão, porque as visitas ao monumento essas tenderão a escassear.

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