Opinião & Análise BELAS MEMÓRIAS: A dívida pela prótese Por Jornal Notícias Há 17 horas Criado por Jornal Notícias Há 17 horas 178 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 178 PORTAR uma peruca ou prótese capilar de qualidade na cabeça, não é para quem quer, mas sim quem pode e forte economicamente, embora existam réplicas e réplicas para satisfação de todos os egos e bolsos. Porque a vida é um sopro, tão fugaz quanto o presente, há quem defenda que seja vivida intensamente cada dia como se fosse o último. A intensidade para os que assim pensam varia de pessoa para pessoa. Existe quem realmente investe na vida intensa somente para si, mesmo que os recursos se revelem ou mantenham-se na constante escassez. O seu estilo de vida tem de estar ajustado ao nível de quem realmente tem recursos abastados. Madú é uma das mulheres que não deixa seus créditos em mãos alheias, quando o assunto é beleza, produção de uma boa imagem. Não se deixa derrotada pelas privações, muito menos pelas partidas que infelizmente a vida lhe tem pregado várias vezes. Ela preocupa-se muito com a sua aparência e o resto se vê depois. Se em casa falta arroz, não é motivo de alarme, desde que haja o mínimo para não se sucumbir. O máximo dos seus rendimentos deve servir para garantir e manter a imagem impecável. Essas coisas de cultivar a personalidade são lhe característica desde que veio ao mundo. Mas um dia o amigo do alheio pregou-lhe também uma partida daquelas que não se desejariam nem ao pior inimigo. Ela aplicou um valor na compra de uma prótese capilar incomum, de alta qualidade e, consequentemente, caríssima. O preço era tão alto que, para as suas capacidades limitadas, diga-se, precisaria de saldar a dívida em duas ou três prestações, desde que fosse para se apresentar ao seu jeito. E assim se cumpriu o desejo. Pagou a primeira prestação, na segunda teve a prótese e começou a usá-la. A ideia da vendedeira do cabelo era reaver os restantes oito mil meticais, uma vez estabelecida a confiança entre ambas, no pagamento da primeira tranche. Numa manhã, o diabo não só batia à porta da Madú como passava a conviver com ela literalmente. Enquanto caminhava, pela baixa da cidade de Maputo, na famosa zona de exclusão de prótese, sentiu um movimento estranho, tropeçou e caiu. De seguida sentiu um ar fresco na cabeça. A cabeleira postiça havia sido arrancada pelos oportunistas que pululam pela cidade. A mulher não quis acreditar no que estava a acontecer, mas era nada mais, nada menos que uma pura realidade. O ar natural providenciado pelo Divino, para todos, soprava nas brechas abertas pelas tranças normais, feitas como base para assentar a prótese. Quando finalmente deu conta do sucedido, não mais ouviu comentários e lamentações dos que haviam presenciado o roubo: desmaiou. Os mirones pararam de comentar, porque estavam perante uma alma prestes a se desligar do corpo. Usaram todas as artes por eles conhecidas, para evitar que tal acontecesse, buscando diferentes formas de reanimá-la. Madú foi ganhando a respiração normal, para alegria de todos. Ainda prostrada num dos mais escaqueirados passeios da cidade e sem se lembrar dos seus sapatos de salto alto fora do seu pé, voltou a colocar a mão à cabeça, tal como o fizera, quase que por instinto, no momento da violência. De seguida ela gritou: “… e ainda ainda faltam oito…”, voltou a desmaiar. Os socorristas voltaram a pôr mãos à obra para lhe colocar novamente em pé. E assim aconteceu: Madú levantou-se, sacudiu a poeira e seguiu o seu caminho. Leia mais… Você pode gostar também Que perfil de trabalhador esperar nos dias de hoje? Reflexões de Muvalinda: Solitude: Amar Estar Só CÁ DA TERRA: Um porco espião REFLEXÕES DA MUVALINDA: Síndrome da Felicidade Adiada BELAS MEMÓRIASOpinião & AnálisePRÓTESES Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior CAN DE FUTEBOL DE PRAIA: Estreia vitoriosa sobre o Malawi Próxima artigo CÁ DA TERRA: Violência gerará sempre violência Artigos que também podes gostar CÁ DA TERRA: Violência gerará sempre violência Há 17 horas REFLEXÕES DA MUVALINDA: Eu tenho um sonho Há 3 dias Adiado sonho de mudar-se para a “cabaninha” Há 5 dias BELAS MEMÓRIAS: “Próteses”… não digam que não vos avisei Há 1 semana CÁ DA TERRA: Porcos não podem voar Há 1 semana REFLEXÕES DA MUVALINDA: Eleições Há 2 semanas