Quarta-feira, 18 Dezembro, 2024
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Rússia e África: Passado e futuro da amizade (1)

Por Jornal Notícias
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Sergey Neskorozhenkov*

EM 9 e 10 de Novembro, a Primeira Conferência Ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África teve lugar em Sochi. Trata-se da primeira reunião deste formato, criado na sequência da segunda Cimeira Rússia-África, realizada em Julho de 2023 em São Petersburgo. Prevê-se que a organização de conferências semelhantes daqui em diante  seja todos os anos entre as cimeiras. 

O novo formato de interacção visa a continuação mais eficaz do trabalho destinado a apoiar mutuamente às prioridades de cooperação e os interesses nacionais da Rússia e dos países de África.

A diversidade temática do programa de actividades do evento, desde a cooperação em matéria de segurança até à luta contra as doenças infecciosas, demonstrou mais uma vez a riqueza do potencial das nossas relações. Um foco especial foi feito à interacção entre os países do continente africano e a União Económica Eurasiática.

Em 2019, pela primeira vez na história, foi realizada a Cimeira Rússia-África, delineando os vectores estratégicos da cooperação. No entanto, não pode certamente ser considerada o ponto de partida da nossa interacção, mas apenas uma nova página dela.

As relações Rússia-África têm um extenso percurso e sempre caracterizaram-se pela sua natureza multifacetada. É de destacar que ao longo da sua história a Rússia nunca tomou parte na divisão colonial do continente africano. Pelo contrário, preocupava-se com destino dos povos oprimidos. Em 1841, ela foi entre os mais activos proponentes da elaboração e assinatura do tratado que proibia o tráfico de escravos. Nos termos deste documento, foram determinadas obrigações para combater este flagelo.

Os contactos com os países do continente ganharam um novo impulso após a Segunda Guerra Mundial, quando as colónias dos países europeus começaram a sua luta pela autodeterminação e independência.

Em 1960, no tal chamado “Ano de África” a URSS promoveu a adopção pela Assembleia Geral da ONU, da Declaração sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos Coloniais. Em seguimento, em 1963, a ONU, por iniciativa da URSS e países em desenvolvimento, adoptou a Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas da Discriminação Racial. Em 1973 – a Convenção Internacional sobre a Supressão e a Punição do Crime do Apartheid proposta pela URSS e Guiné.

Nas décadas de 1960 e 1970, graças ao trabalho abnegado da diplomacia soviética, mais de 80 países (mais de 750 milhões de pessoas) tornaram-se independentes, com os quais a URSS estabeleceu relações diplomáticas e assinou por volta de 200 instrumentos jurídicos em diferentes esferas.

Assim, a União Soviética não só deu apoio político aos povos africanos na luta contra o colonialismo, racismo e apartheid, no estabelecimento do Estado, no reforço e na defesa da independência, como também ajudou os países africanos, e a República de Moçambique não foi excepção, a lançar as bases das economias nacionais. Foram criadas importantes infra-estruturas, energia, indústria e agricultura; foram criados hospitais e escolas e foi prestada assistência na construção e equipamento de forças armadas prontas para o combate. Centenas de milhares de africanos formaram-se nas universidades soviéticas, e os conhecimentos e profissões que adquiriram – engenheiros, economistas, médicos, professores e muitos outros – trouxeram e continuam a trazer benefícios práticos aos Estados africanos. Durante os anos de ajuda, Moçambique como muitos outros países do continente conseguiu reforçar a sua independência e criar condições favoráveis ao crescimento económico.

Agora, a Rússia, como sempre, continua a defender a soberania e o desenvolvimento independente do continente africano. É com satisfação que vê a África a progressivamente tornar-se um novo centro de poder. O seu papel na cena mundial está a crescer exponencialmente. Tudo indica que a África daqui a algum tempo será um dos líderes da nova ordem mundial multipolar emergente – existem todos os pré-requisitos objectivos para tal.

Um enorme obstáculo à plena realização do potencial de África são os esforços das antigas metrópoles para preservar a ordem colonial (neocolonial). A essência do sistema em si não mudou: enriquecimento de alguns à custa da exploração de outros, apenas os métodos tornaram-se mais sofisticados… Sim, os meios de comunicação social estão cheios de títulos sobre o aumento do investimento ocidental no continente, mas na realidade verifica-se que estes investimentos de facto não se destinam aos africanos. O seu objectivo não é desenvolver a África, mas sim satisfazer os interesses dos seus patrocinadores. O máximo que se oferece em troca são programas destinados a criar condições para formar e manter a mão-de-obra necessária para servir as infra-estruturas extractivas e de transportes de que o Ocidente necessita.

*Encarregado de negócios da Embaixada da Rússia em Moçambique

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