Sábado, 21 Dezembro, 2024
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VOLVIDOS CINCO ANOS: Marcas de ciclone ainda patentes em Sofala

Por Jornal Notícias
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PILATOS PIRES

O CICLONE tropical Idai, ocorrido em 2019, deixou marcas profundas, com um saldo de mais de 600 mortes, 1,641 feridos e acima de um milhão de pessoas precisando de serviços de saúde, nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia.

A tempestade causou igualmente danos significativos nas infra-estruturas públicas, privadas e na agricultura, onde afectou 103.285 produtores e 164.883 hectares de culturas, em diferentes empresas, principalmente nas micro.

Volvidos cinco anos, a província de Sofala, concretamente o bairro de reassentamento de Mandruzi, é o espelho deste evento climático extremo, que se abateu sobre a sua população, com a passagem de um furacão e ocorrência de chuvas acima do normal, tal como relatam as vítimas ouvidas pela Reportagem do “Notícias”.  

Alberto Francisco, chefe do quarteirão 17, em Mandruzi, afirma que são várias as vítimas do ciclone Idai que ainda vivem traumas por conta da tempestade e rogam a Deus para que apague, em definitivo, das suas memórias os acontecimentos  do dia 14 de Março de 2019.

“Não sei que pecado teríamos cometido para sermos castigados daquela forma. Em toda minha vida nunca tinha visto ventos e chuvas daquela intensidade. Perdemos tudo, mas mais do que perdas, duro foi ver meus vizinhos e amigos a morrerem. Lembro-me destas imagens horríveis como se fosse ontem”, disse Francisco.

Salientou que o 14 de Março de 2019 é considerado, por todos os habitantes do seu bairro, como um dia negro, que nunca devia ter existido em suas vidas.

Maria Chaves, antiga moradora do bairro Macuti, na cidade da Beira, afirma que, depois do que viveu no dia do ciclone, na sua antiga moradia, onde perdeu diversos bens e um irmão, nunca mais equaciona regressar, pois ganhou consciência de que efectivamente trata-se de uma  zona de risco, facto agravado por estar localizado à beira-mar.

“ Nem o tempo é capaz de apagar os fatídicos  momentos que vivi naquela madrugada. Lembro-me dos gritos de pessoas feridas, outras mães com suas crianças mortas nos braços e a população correndo de um lado para o outro sem saber que rumo tomar. Por isso, mesmo com as condições melhoradas que a cidade oferece, não penso mais em voltar ao meu antigo bairro”, assegurou Chaves.

A residente disse, igualmente, não entender como é que ela, o marido e seus filhos conseguiram sobreviver no meio daquela tempestade que  destruiu quase todas as casas nas redondezas e tirou a vida de muita gente, incluindo alguns  parentes.

“Escapamos miraculosamente. Acredito que a hora da nossa morte não tinha chegado e com a sobrevivência sentimo-nos como se tivéssemos nascido de novo. Confesso que até hoje tem sido difícil lembrar aquele dia e sempre que há chuvas intensas, os meus filhos ficam com lembranças que levam desde a fatídica madrugada”, recorda-se. 

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