Quinta-feira, 5 Dezembro, 2024
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EDIÇÃO LITERÁRIA: Mercado quase “inexistente” e em constante construção

Por Jornal Notícias
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ANTES de chegar às mãos do leitor, o livro passa por uma longa metamorfose. Nasce, obviamente, do escritor, muitas vezes com algumas imperfeições, até que, finalmente, chega ao editor, profissional responsável pelo seu formato final. 

Muitas vezes, o trabalho do editor é invisível, quase como de um “fantasma esquecido”. Raramente é reconhecido por sua contribuição, sendo os aplausos reservados, naturalmente, aos autores. Isso também é válido quando há uma chuva de críticas negativas, mas, entre os escritores, há uma saudável competição para firmar um contrato com uma boa editora.

Este cenário revela o quão essenciais são estas instituições, embora alguns defendam que esse mercado ainda é praticamente inexistente no país. Esse é o caso do editor Celso Muianga, quem acredita que Moçambique ainda tem um longo caminho a percorrer nesse sector.

Com mais de 20 anos de carreira, Celso Muianga falava sobre os “Desafios das Editoras em Moçambique” durante uma mesa redonda moderada pelo jornalista David Bamo. O painel também contou com a participação de Pedro Pereira Lopes, da Gala-Gala Edições, Rúben Morgado, da Fundação Carlos Morgado, e Mélio Tinga, da Catalogus.

O encontro fez parte da programação da feira literária Ler é Uma Festa, organizada pela Fundação Fernando Leite Couto, que aconteceu no último fim-de-semana. O evento tem como base a ideia de que a leitura é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade em várias áreas.

Segundo Celso Muianga, com mais de 20 anos de experiência, são muitos os desafios enfrentados pelas editoras moçambicanas, sendo o maior deles a realidade de um mercado editorial ainda em construção.

“O grande desafio é que o mercado não existe. Temos que construí-lo”, afirmou Muianga, destacando que iniciativas como a Ler é Uma Festa são um passo importante para superar tais barreiras. 

Além disso, defende que, mais do que simplesmente publicar livros, o verdadeiro trabalho do editor é formar leitores. “Precisamos começar pela formação de leitores, para então conseguirmos criar um mercado sólido”, afirmou.

Também propôs uma maior especialização na formação literária. “Na universidade, formamos profissionais em linguística e literatura, mas raramente se aprende o ofício da edição de obras”, exemplificou. 

Na sua visão, é necessário um sistema mais estruturado e robusto, com profissionais dedicados a todas as etapas do processo — editores, revisores e designers. “Moçambique tem muitos autores novos e talentosos, mas falta uma estrutura editorial que possa apoiá-los adequadamente”, declarou. Outro desafio apontado por Celso Muianga é a falta de uma linha pública do livro. É que embora aprovada há mais de 12 anos, esta política ainda não foi regulamentada. “Se tivéssemos uma política de aquisição de obras pelas entidades públicas para as escolas secundárias, nossas tiragens seriam muito maiores. Em vez de 100, 200 ou 500 cópias, teríamos tiragens de pelo menos cinco mil exemplares”, considerou.

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