Quarta-feira, 11 Dezembro, 2024
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CÁ DA TERRA: Morrer à fome ou de doenças

Por Jornal Notícias
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PODE até parecer exagero, ou que estamos com “nyongwa” dos manifestantes que inundam as ruas desde 21 de Outubro último. Longe de nós interferirmos no que fazem e como fazem. Preocupa-nos somente o facto de não estarem a ser respeitados os direitos dos outros à livre circulação, a produzir e desde já ao culto.

Por isso os apelos para que este drama cesse vão prosseguir enquanto o número de vítimas continuar a crescer, com relevo para os mais desfavorecidos.

Ao fim de mais de um mês e meio de manifestações, o balanço não é nada positivo. Milhares de pessoas não terão o que comer hoje, não comeram ontem e ficarão sem comer amanhã e depois de amanhã também.

Desde que começou este movimento, há famílias que não conseguem se alimentar adequadamente a cada dia. Para esta franja de pessoas, mulheres, homens e crianças, a vida não está a dar muitas opções promissoras e as manifestações vieram agravar este quadro.

A ordem comum de ficar em casa não proporciona um porto seguro para crianças vulneráveis e suas famílias. Milhares de pessoas ganham a vida nas ruas, vendendo produtos. Aqueles que dependem da economia informal, categoria que emprega a maioria da força de trabalho, ficaram com os meios para sustentar as suas famílias comprometidos devido à crise.

Mercados em áreas urbanas e rurais, onde produtos e mercadorias são vendidas a diferentes regiões, estão com capacidade limitada de funcionamento desde que iniciou esta crise, situação que piorou com o bloqueio das vias que não permite o devido reabastecimento.

Noutras regiões do país a desigualdade no acesso aos meios de subsistência traz ameaças múltiplas. Os que estão incapazes de vender também estão incapazes de comprar. Também não estão capazes de aceder aos serviços de saúde, comida e educação para os filhos. A sua sobrevivência e acesso aos meios estão severamente limitados.

A paralisação nas actividades produtivas, uma das marcas destas manifestações, não só afecta os meios de subsistência das famílias, como também a capacidade de manutenção da força laboral, dada a redução drástica da sua facturação. De imediato  fica evidente a incapacidade destas pagarem salários, colocando fortes entraves na sobrevivência dos assalariados e seus dependentes, sendo quase certo que milhares de pessoas perderam ou estão na eminência de perder os seus empregos.

O golpe agressivo das manifestações para uma economia que já era frágil para milhões de famílias provavelmente poderá levar mais crianças às ruas e durar para além do tempo limite desta crise.

Por outro lado, a incapacidade dos municípios de proverem a recolha de resíduos sólidos, faz soar o alarme, sobretudo numa altura em que estamos à porta da fase crítica da época chuvosa em que, invariavelmente, o país enfrenta surtos de diarreias e cólera.

Quem faz uma breve ronda pelas nossas cidades percebe que o acúmulo de lixo abre portas para a eclosão de doenças que vão pressionar o já débil acesso aos serviços de saúde.

A situação afigura-se mais preocupante para as pessoas que não possuem acesso à água limpa para cumprir a recomendação de lavar as mãos para prevenir doenças, sendo as crianças as primeiras na linha de risco.

Invariavelmente, as pessoas mais vulneráveis encaram esta dura realidade: ou morrer de fome ou de doenças.

É urgente, então, a consciencialização e a união de forças para parar com a tragédia de ter pessoas que morrem pela falta de alimentos. Igualmente, é exigido cessar com toda a bela retórica das palavras, da manipulação desmedida e agir para acabar com a violência, as  atrocidades e limitação dos direitos das pessoas.

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