Sexta-feira, 31 Janeiro, 2025
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EDITORIAL

Por Jornal Notícias
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O Conselho Constitucional (CC) validou e proclamou, na segunda-feira, os resultados das eleições de 9 de Outubro, acto que confirmou o que já tinha sido anunciado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), ou seja, a vitória da Frelimo e do seu candidato presidencial, Daniel Chapo.

Sendo o CC a instância mais alta do contencioso jurídico-eleitoral em Moçambique, cujas decisões são definitivas, porque irrecorríveis, pode-se dizer que na segunda-feira encerrou, formalmente, todo o dossier sobre o escrutínio que, infelizmente, está a ser marcado por uma onda de contestação com consequências desastrosas para a economia nacional e regional e, acima de tudo, para a vida dos moçambicanos que passaram a viver num ambiente de incertezas.

Dizemos que o ciclo fechou formalmente, porque acreditamos que os corredores mantêm-se abertos para se encontrar, numa conversa de cavalheiros, melhores alternativas conducentes à retoma da estabilidade em Moçambique, quanto mais cedo melhor.

Estamos, na verdade, perante um problema marcadamente político porque suscitado pelas eleições, em que a oposição se sente injustiçada pelos resultados, chamando à colação alguns episódios negativos que, de certa maneira, mancharam o processo, mas, convenhamos, estamos diante de um dilema social. Quando isso acontece não há melhor caminho que um diálogo entre as partes desavindas sem posições extremadas, nem exigências inflexíveis.

Dialogar é, acima de tudo, compreender o outro e fazer cedências sempre que necessário para se chegar a um meio-termo que nos leve ao objectivo final, no caso vertente a estabilidade. A nós dá algum alento quando as palavras de encorajamento à mesa negocial vêm não só das diversas esferas da sociedade moçambicana – religiosos, empresários, académicos e políticos –, mas também da comunidade internacional. São exemplos desse encorajamento as mensagens de grande parte dos países da SADC, bloco regional do qual Moçambique é membro fundador, e de organizações transnacionais como a União Europeia, apelando ao Presidente-eleito, Daniel Chapo, a iniciar, rapidamente, uma aproximação aos seus adversários políticos e ao povo para juntos identificarem caminhos para apaziguar os ânimos exaltados.

É que o nível de violência que atingimos nestas últimas duas semanas é deveras preocupante. Chegámos ao extremo de não valorizar a vida, muito menos o património de outrem, como que a fazer jus à triste conclusão a que chegou um certo filósofo – “Homo homini lupus” (o Homem é o lobo do próprio Homem).Quando chegamos ao extremo de impedir que os doentes tenham acesso aos cuidados médicos ou as famílias de proporcionarem um funeral condigno ao seu ente querido, porque as vias estão bloqueadas, é prova inequívoca de que as coisas estão mesmo complicadas.

Não nos vamos aqui referir ao impacto negativo da libertação, de uma só vez, de mais de 1500 reclusos da cadeia da Machava, alguns dos quais tidos como extremamente perigosos para a vida em sociedade. Assim, por estes e demais argumentos, pensamos que é chegado o momento de os moçambicanos de per si, conversando, colocarem um ponto final à destruição do património que tanto nos custou constituir.

Mãos à obra! Somos capazes.

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