Quinta-feira, 2 Janeiro, 2025
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CÁ DA TERRA: Vem aí dias difíceis, muito difíceis mesmo!

Por Osvaldo Gemo
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CÁ na nossa terra, pelo menos é assim, no Sul do Save e se quisermos ir mais além, entre os Banthu comer na gamela (fizemos isso muitas vezes na infância, sobretudo em grandes cerimónias), indica a íntima comunhão entre os presentes e muitas bênçãos futuras.

Pelo contrário, quando comíamos na panela e meia volta tocássemos com a colher já vazia a “reclamar” por mais, éramos imediatamente repreendidos porque tal significa mau agoiro.

Por isso mesmo desencorajava-se que as crianças comessem na panela, argumentando-se que no dia do seu casamento cairia muita chuva.

Verdade ou não, do dito popular não se questiona, mas aprende-se sempre algo. São lições de vida que ficam para a posteridade.

Vem este arrazoado a propósito da moda que por alguns dias “assaltou” as nossas cidades em resposta a apelos propagados nas redes sociais para que as pessoas batessem nas panelas vazias à noite, em protesto contra os resultados eleitorais.

Aconteceu uma dessas vezes estar na companhia de uma idosa, por sinal conhecedora dos ditos populares. Ela de imediato sentenciou – vem aí dias muito difíceis para o nosso povo, para a nossa terra.

Referiu-se no seu prognóstico, como impacto imediato, a fome. Mas ao olhar à minha volta vejo e até confirmo que de facto vem aí dias muito difíceis.

Se num passado recente eu não tinha dificuldades para comprar um saquinho de arroz muito próximo à minha residência, hoje tenho de fazer longas distâncias, porque em nome das manifestações, houve quem entendeu ir saquear e queimar a mini-mercearia  o supermercado e as bombas de combustíveis que abasteciam o meu bairro.

Ao andar pela cidade, vejo que isto não aconteceu apenas ali, mas em toda a periferia  que já tinha conquistado, neste quisito, alguma liberdade em relação ao centro da cidade, pois, também as grandes superfícies tinham apostado em atender a esta franja da população que, no entanto, demonstrou que não está preparada para perceber os benefícios ou o que de mal faz a si próprio quando destrói o bem comum.

Nesta saga de violência, até não escaparam unidades sanitárias, depósitos de medicamentos, escolas, aeroportos, bombas de combustível, fábricas, armazéns e por aí além. Os empreendedores que um dia prometiam virar empresários de sucesso foram liminarmente arrasados para que não ousem chegar além.

O resultado está aí. Nada será como antes. Estamos na penúria. Vai levar muito tempo para que tudo isto que foi arrasado volte a ficar em pé. No fim das contas, todos nós estamos de “tangas”. Temos de voltar a formar a fila para comprar gás, gasolina, petróleo, arroz, carapau, roupa e um sem número de outras coisas que começam a ser luxo.

Basta dizer que na mercearia da zona era possível comprar um pouco de tudo e escolher o arroz que desejava. Hoje não. Quem vende arroz são os manifestantes- ladrões, nas esquinas, na candonga. Escrevo estas linhas na vez de muitos outros que não o podem fazer, mas que presenciaram o horror que virou a capital após três tenebrosos dias que deixam uma má fama para os que nela residem.

Será mesmo que conseguimos nos espelhar naquilo que fizemos? Esta é uma vergonha produzida por uns, mas que pagaremos o preço, todos nós, com os dias difíceis que se avizinham.

Destruir é tão fácil, mas reconstruir custa o esforço de anos de sacrifício. O golpe agressivo das manifestações para uma economia que já era frágil para milhões de famílias provavelmente poderá levar mais crianças às ruas e durar para além do tempo limite desta crise.

Será que vale a pena regredirmos da forma como o fizemos?

Quando criança mal entendia o sentido de uma e de outra coisa. Hoje já entendo. Bater na panela vazia traz mau agoiro.

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