Opinião & Análise Xitsungo: Um pequeno ladrão ou um grande herói? Por Jornal Notícias Há 3 meses Criado por Jornal Notícias Há 3 meses 12,7K Visualizações Compartilhar 5FacebookTwitterPinterestEmail 12,7K ANTÓNIO FOGUETE A PERGUNTA ecoa na mente de muitos enquanto o jovem, envolto em aplausos e admiração, torna-se o símbolo de uma sociedade que parece ter perdido o rumo. A viralização de sua imagem nas redes sociais trouxe uma avalanche de convites para programas de televisão, prémios e até mesmo quantia significativa de dinheiro. O que era para ser um acto de desespero transformou-se num espectáculo de reconhecimento e, para muitos, uma estranha forma de sucesso. Mas o que se esconde por trás desse fenómeno? Dezenas de crianças começaram a imitar o jeito de falar e de agir de Xitsungo. A ideia de que o crime pode ser uma via para uma vida melhor ganhou força. Afinal, se ele foi aplaudido, por que não tentar o mesmo? O roubo, que deveria ser condenado, agora parece ter se tornado um atalho para a fama e a fortuna. Em meio a essa confusão, surge uma questão perturbadora: qual é o papel da mídia nesse cenário? A função dos meios de comunicação é, ou deveria ser, educar e transformar a sociedade. No entanto, a cobertura do caso Xitsungo parece ter alimentado uma cultura de celebração do crime. O que estamos aplaudindo quando reconhecemos o garoto? Talvez a sua coragem de roubar. O caso de Patenteamento e as premiações que cercam o fenómeno do Xitsungo começam a inspirar muitos meninos da mesma idade ao observar os ganhos que esse acto de roubo gerou. Não nos surpreendamos se, mais cedo ou mais tarde, esse fenómeno der origem a milhares de novos “Xitsungos”. A maneira como esse tema foi abordado pela mídia me remete a teoria de “balas mágicas” ou teoria da “agulha hipodérmica”, que surgiu na década de 1920 e sugere que a mídia tem um impacto directo e poderoso sobre o público, como se as mensagens difundidas fossem injectadas nas mentes dos indivíduos, levando-os a adoptar determinadas crenças ou comportamentos de forma quase automática. Este é um ponto de partida para discutir como a mídia pode influenciar no comportamento dos indivíduos (neste caso das crianças) a partir do Framing ou seja da forma como um assunto é apresentado (o enquadramento). Não obstante, a maneira como muitos aplaudem o comportamento do Xitsungo evoca em mim uma outra teoria: A teoria da “Espiral do Silêncio”, proposta pela socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann na década de 1970, segundo a qual “os meios de comunicação têm o poder de silenciar ou amplificar certos fenómenos sociais”. A forma como as redes sociais e, especialmente, os meios de comunicação tradicionais abordam determinados temas pode influenciar a opinião pública, especialmente entre os cidadãos menos críticos, como as crianças, que podem acabar legitimando actos indecentes. É importante lembrar que já foram reportadas dezenas de casos chocantes de crianças em situações semelhantes ou até piores que a de Xitsungo. Mas enquanto Xitsungo brilha nos holofotes, outros permanecem nas sombras, sem qualquer reconhecimento ou assistência. Órfãs que cuidam de irmãos mais novos, sem tecto, sem comida e sem esperança e observam a ascensão de um garoto que, depois de um furto é recebido como um estrela. Não estamos aqui a passar um recado a estes meninos de que o crime “valapena”? Aos que aplaudem Xitsungo, deixo uma reflexão: Que lição estamos realmente ensinando a ele e a tantos outros da sua faixa etária? Xitsungo, que você use sua nova fama para transformar sua vida e a de outros. Que a sua história não seja apenas um espelho de uma sociedade que aplaude o erro, mas um chamado à mudança. Arte: Fredy Uamusse Leia mais… Você pode gostar também REFLEXÕES DA MUVALINDA: O poder da informação REFLEXÕES DA MUVALINDA: Pai incógnito Belas Memórias: A Cidade das cozinhas ELEIÇÕES EUROPEIAS: Mais de 361 milhões chamados às urnas Opinião & AnáliseXITSUNGO Compartilhar 5 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Otis Selimane prepara novo álbum Próxima artigo Dois agentes da PRM espancados até a morte Moma Artigos que também podes gostar CÁ DA TERRA: É justo querer atingir os cem anos Há 4 dias BELAS MEMÓRIAS: Celebrar a desgraça alheia Há 4 dias REFLEXÕES DA MUVALINDA: E quando o inesperado acontece Há 7 dias Tarifas impostas pelos EUA: cooperação de benefícios comuns é o caminho correcto Há 1 semana É preciso falar o que se sente diante do que se vê... Há 2 semanas O fenómeno dos influenciadores digital e a ilusão da fama instantânea Há 3 semanas