Segunda-feira, 10 Fevereiro, 2025
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MATERNIDADE: Da prestação de cuidados à gestão dos conselhos

Por Jornal Notícias
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FARCELINA CUMBE

A PROVISÃO de cuidados aos recém-nascidos continua a ser influenciada por mitos e concepções socioculturais que, não raras vezes, interferem no crescimento e desenvolvimento integral da criança.

É que por se tratar de um bebé, conselhos de diferentes fontes não faltam, colocando os progenitores com o dever de sanear as ideias. As recomendações visam apoiar as mães, mas porque todos os visitantes têm opinião, elas chegam a contradizer-se.

Enquanto a ciência defende a necessidade de alimentar a criança só com leite materno até aos seis meses de vida, há os que orientam a dar um pouco de água, alegadamente porque o alimento aquece e pode afectar o sistema digestivo do menor.

Esta contradição chega a transtornar as mães, mesmo quando há comprovação científica, devido aos mitos e práticas culturais que “suplantam” a ciência.

O “Notícias” ouviu mães de recém-nascidos na cidade de Maputo, que receberam muitos conselhos, a maioria dos quais contraditórios. Das várias ideias recebidas de familiares, vizinhos e amigos, optaram por seguir as recomendações das pessoas mais experientes na família, sejam mães, tias e avós.

A chegada de um recém-nascido numa família leva à multiplicação de visitas, a maioria das quais com a intenção de conhecer o nascituro e ajudar nos cuidados.

As mães relatam que, diante de tantos conselhos, chegaram a ficar em dúvida sobre o que fazer, mas as ideias dos mais experientes valeram a pena.

Lizete Cossa, mãe de primeira viagem, residente no Maxaquene “C”, relata que as sugestões chegam a baralhar-lhe, daí que decidiu ser a sua própria conselheira.

“Os conselhos contraditórios geram transtornos, ficas sem saber quem tem razão. Há vezes que nem precisamos destas ideias. Decidi não ligar às recomendações porque estava a me perder. Sempre que tenho dúvidas consulto a minha mãe e tias”, explicou.

As múltiplas orientações chegaram igualmente a Fáuzia Ernesto quando teve o primeiro filho há sensivelmente um ano. Conta que, por não ser apologista de remédios tradicionais, enfrentou desafios na família.

“Tenho as minhas crenças e não uso remédios tradicionais, mas as minhas tias recomendaram-me a usá-los. Para não criar agitação aceitei, mas não cumpri. Isso acabou criando divergências, mas pelo bem-estar do bebé continuei firme”, lembrou.

O tratamento de doenças que acometem os recém-nascidos é também acompanhado de muitas propostas de soluções. Esta foi a situação vivida por Edna Paia, cuja filha não evoluía nos primeiros meses.

“Ela tinha uma doença que afectava o seu desenvolvimento, recebi várias sugestões e cada pessoa tinha a sua perspectiva. Recebi muitos conselhos e preferi seguir os da família”, apontou.

A mulher, residente em Malhangalene, esteve também dividida entre tratar uma doença no hospital ou recorrer à medicina tradicional. Acabou usando medicamentos tradicionais por recomendação das enfermeiras.

Victória Chitlango seguiu apenas as sugestões que para ela faziam algum sentido. Administrou remédios tradicionais, mas recorreu ao hospital em caso de doença.

Isabel Duarte não recebeu muitas sugestões, até porque a família encontra-se distante, pelo que se considera conselheira de si, recorrendo ao hospital quando carece de esclarecimentos.

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