Terça-feira, 11 Fevereiro, 2025
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ÁFRICA: Uso de crianças-soldado contribui para estagnação da economia

Por Jornal Notícias
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A investigadora Naomi Haupt disse ontem à Lusa que o uso de crianças-soldado em África contribui para a estagnação da economia, pois a falta de escolaridade destas crianças potencia o aumento da pobreza.
“A falta de escolaridade resulta na perda de capital humano e na redução da produtividade, contribuindo para a estagnação económica a longo prazo, para a diminuição da participação da força de trabalho, para o aumento das taxas de pobreza e para a redução do investimento estrangeiro devido à instabilidade existente”, disse a investigadora do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), no âmbito de uma entrevista sobre o “Dia Internacional contra o Uso de Crianças-Soldado”, que se assinala na quarta-feira (12).
Além deste fenómeno, os países têm custos acrescidos em serviços socials “relacionados com os cuidados de saúde e as necessidades legais, como os processos de reintegração, das antigas crianças-soldado”, que podem passar pelo apoio jurídico para a recuperação da identidade e da documentação legal destas vítimas, indicou.
Segundo Haupt, as antigas crianças-soldado ganham normalmente um ordenado inferior – que pode chegar a um terço – ao dos seus pares que não foram recrutados, o que reflecte “uma desvantagem económica”.
Devido à falta de escolaridade, “a probabilidade de conseguirem um emprego qualificado diminui para metade”.
“Esta redução de mão-de-obra qualificada pode ter um efeito em cadeia na economia, reduzindo a produtividade global e o crescimento económico”, reiterou a investigadora.
Psicologicamente, os traumas também podem impactar a economia das nações africanas se as vítimas não se sentirem capazes de trabalhar, indicou.
Segundo Naomi Haupt, estas crianças-soldado podem ter vários papéis, desde combatentes, bombistas suicidas, mensageiros, escravos domésticos, escravos sexuais.
Além da guerra e dos conflitos activos em África, há vários factores que contribuem para o aumento do recrutamento de crianças-soldado.
“A pobreza e as dificuldades económicas levam frequentemente as famílias a enviar os seus filhos para grupos armados em troca de apoio financeiro, alimentos ou protecção”, disse a investigadora.
Acrescentou ainda que a instabilidade política e a fraca governação, características por exemplo da região do Sahel, criam condições em que as autoridades não podem ou não querem impedir o recrutamento de crianças.
Ao mesmo tempo, a ruptura das estruturas familiares devido a deslocações, guerras, como no Sudão e na República Democrática do Congo, ou catástrofes naturais, como na Somália, deixa muitas crianças vulneráveis, salientou Naomi Haupt.
Em alguns casos, as crianças são raptadas à força de aldeias, como na Etiópia, campos de refugiados ou escolas, como na Nigéria, enquanto outras são recrutadas através de doutrinação ideológica, muitas vezes baseada em crenças étnicas ou religiosas, explicou.

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