Opinião & Análise BELAS MEMÓRIAS: De facto, o crime não compensa! Por Jornal Notícias Há 3 dias Criado por Jornal Notícias Há 3 dias 441 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 441 MEU amigo Manuel é um indivíduo muito esforçado. Quando o assunto é trabalho, mesmo com tempestade, ele agarra-se aos mais finos, “segurando ramos das árvores” para sobreviver e avançar. Prova disso foi o que passou na manhã de 23 de Dezembro último, em plenas manifestações pós eleitorais. Sem meio de transporte para se deslocar de uma das localidades do distrito da Moamba para o Município da Matola, decidiu fazer das tripas coração, caminhando. Era preciso aproveitar a ocasião para ganhar algum dinheiro. A experiência do seu trabalho, de cuidar do cabelo, ensinou-lhe que depois das festas do Natal e do fim-de-ano, o dinheiro costuma andar muito distante. Homens e mulheres que fazem “dreadlocks” ou cabelo“rasterfari”, a especialidade do Manuel, precisam naquelas ocasiões de estarem impecáveis, apesar de 2024 ter sido um ano atípico, uma vez que dias antes já se falava do Natal cancelado e se tinha incertezas em relação às festas da transição do ano. Como neste trabalho nunca está só, combinou com o seu colaborador para que fizessem de tudo de modo a não falhar nada, uma vez que, em termos de oportunidade de fazer dinheiro, o assunto era pegar ou largar. Foi assim que ambos, idos de pontos totalmente divergentes, viajaram a pé até se encontrarem no local de trabalho. – E como foi essa viagem num ambiente quase “sem vida”? – Algo estranho. Para já, nunca tinha feito aquele percurso a pé, pior foi andar longa distância sem cruzar com alguma “alma viva”. O momento marcante foi quando, a dado momento, avistei uma moldura humana, numa autêntica onda, a abrir o portão de um armazém de produtos alimentares. A abertura do portão gigante foi um exercício que se assemelhou ao descerramento de uma placa. Fiquei chocado por algum instante, porque ainda não entendia o propósito da agitação. Vi os homens da segurança indiferentes. Momentaneamente reduzi o passo e vi que se tratava de um assalto que culminou, em tão pouco tempo, em saque. Mas como o meu propósito não era esse, continuei a caminhada. A dado passo, mais um e outro grupo surgia também a invadir outros armazéns na mesma área, mas não parei sequer pois noutras ocasiões já cheirava à pólvora, na tentativa de dissuadir os assaltantes. Fiel ao meu princípio e propósito, embora exausto, dirigi-me ao meu salão. – Mas consta que ninguém ficava indiferente por ser um acto público de que quase todos tiraram proveito. Como foi possível a sua indiferença? – O roubo nunca deixa de o ser, em função das circunstâncias, lugar ou o nível de pessoas nele envolvidas. É sempre roubo, nem que o autor seja ladrão de patos ou de colarinho branco. Eu estive diante de uma grande tentação, mas mesmo na condição de carenciado ative-me aos meus princípios. Veja só que chegado ao meu pequeno salão fui aliciado a juntar-me a outros aglomerados que, aos cogumelos, iam surgindo, quer em armazéns, quer em pequenas lojas no interior do bairro. Um indivíduo bem posicionado na vida teria mobilizado os vizinhos para aderirem por não ver pecado num acto tão público, à luz do dia, e que dificilmente falar-se-ia em responsabilização. Dizia que num dos armazéns entrava-se e saia-se como se de passarela tratasse. Ninguém impedia a ninguém de levar seja o que fosse, pois até os donos abriam as portas em jeito de cortesia e deixavam os assaltantes a seu bel-prazer. Quero acreditar que as vítimas não o fizeram de coração aberto. Estavam interiormente magoadas, mas para evitar a vandalização optaram por este procedimento. Uns aderiram e outros, como eu, preferiram ficar de fora a contemplar a triste cena. Continuamos a receber clientes até ao cair da noite. Dia seguinte, para o meu espanto, ao chegar à zona onde trabalho, vejo um movimento desusado de pessoas e viaturas num entra e sai. Alguém me explicou que um dos mobilizadores para a pilhagem tinha perdido a vida, dentro de um armazém que ficou totalmente destruído pelo fogo. De facto, o crime não compensa! Leia mais… Você pode gostar também Sobre o desaparecimento de crianças, adolescentes e jovens Serviços da LAM deixam a desejar ELEIÇÕES EUROPEIAS: Mais de 361 milhões chamados às urnas DETENÇÃO DE LÍDERES DE ISRAEL E DO HAMAS: Mundo reage com sentimentos mistos BELAS MEMÓRIASOpinião & Análise Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Desportistas lamentam morte de Pinto da Costa Próxima artigo CÁ DA TERRA: Os exemplos que temos Artigos que também podes gostar Sobre iluminação pública Há 3 dias CÁ DA TERRA: Os exemplos que temos Há 3 dias REFLEXÕES DA MUVALINDA: Salomão Muiambo Há 2 semanas BELAS MEMÓRIAS: Forçado a regressar à casa Há 2 semanas CÁ DA TERRA: Resgatar os valores Há 2 semanas REFLEXÕES DA MUVALINDA: Pai incógnito Há 3 semanas