CultureDestaquePrimeiro PlanoRecreio e Divulgação ATELIER DE LETRAS: A minha alma está no continente africano. Encontrei-me no Festival Poetas D’Alma Por Jornal Notícias Há 5 horas Criado por Jornal Notícias Há 5 horas 158 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 158 ROSÁLIA DIOGO (Jornalista. Activista Cultural e Pesquisadora brasileira) “Eu sou o teu passado e o teu presente Através de ti retornei à vida, ó filho de África Porque trazes no sangue a força de todos os escravizados… Escuta a suavidade deste canto de esperança Serena. Respira o ar puro do alto das montanhas Reflecte. Busca inspiração na memória da África e do mundo Segura com braços firmes a liberdade que escapa.” Paulina Chiziane Introduzo esta escrita com um poema dessa monumental escritora, que é Paulina Chiziane, pois ele diz muito sobre o facto de eu ser uma moçambicana de essência, que vive na diáspora brasileira. O Brasil recebeu milhões de pessoas do continente para lá serem escravizadas. Foram pessoas estrategicamente arrancadas de maneira brutal do seu continente para edificar o nosso país. Por lá tivemos negras e negros africanos e seus descendentes especialistas na área da metalurgia, da medicina, da mineração, da biologia, da construção civil e tantas outras. E ainda temos. A população indígena e a população negra no Brasil são protagonistas da diversidade e da pluralidade na área da música, da dança, da filosofia, da escrita e muito mais. A possibilidade de retornar ao continente mãe, ao berço da humanidade, para mim é sempre uma alegria, uma honra e um privilégio. A primeira vez que estive em Moçambique, em 2011, foi justamente para investigar sobre a obra e vida de Chiziane, como parte da pesquisa de doutorado que realizei entre 2009 e 2013. Desde então, voltei outras vezes, sendo neste momento a quinta vez. Dentre tantos saberes e sabores que tenho desfrutado desde que cheguei aqui, em Setembro de 2024, destaco o convite para participar no Festival Internacional de Poesia e Artes Performativas – Poetas D’Alma, organizado e dirigido pelo activista cultural Féling Capela. O festival é coordenado pelo movimento Poetas D’Alma, que é realizado há mais de 20 anos e tem a poesia como carro-chefe, na sua transversalidade com outras linguagens artísticas. A música esteve presente durante o festival de maneira substancial e não poderia ser diferente. A organização do evento certamente tem como referência a Súplica feita há décadas pela revolucionária poetisa moçambicana Noémia de Sousa: Tirem-nos tudo, mas deixem-nos a música! Tirem-nos a terra em que nascemos, onde crescemos e onde descobrimos pela primeira vez que o mundo é assim: um tabuleiro de xadrez… tirem-nos tudo…, mas não nos tirem a vida, não nos levem a música! Em 2014, eu já havia participado numa Noite de Poesias/Sarau, organizado por esse movimento e lembro-me que a energia foi intensa e a minha alegria foi imensa. Confesso que estava com saudades. O que vivenciei nesses dias em que o Festival Poetas D’Alma ocorreu em Maputo, foi emocionante. A cidade foi tocada pelas boas energias daqueles que investem na possibilidade de uma sociedade mais justa e igualitária. Para os envolvidos nessa agenda, as manifestações artísticas e culturais são basilares para que possamos alcançar essa condição de bem-estar colectivo. Sobre o tema: Resiliência e Cura O tema dessa edição foi assertivo, tendo como referência o contexto de Moçambique e de outras partes do mundo. Estamos vivenciando situações muito tristes e desalentadoras, em que guerras estão acontecendo em várias partes do mundo. Governos de extrema direita, com os seus projectos de exclusão social de pessoas pobres, negras e indígenas, que são apartadas do livre acessos e oportunidades de ascensão. O que se vê é a xenofobia imperando em vários países. A homofobia, o racismo, o machismo, o colonialismo, que tenta se impor, em modos diferenciados tem causados dores e adoecimentos individuais e colectivos. Nessa perspectiva, um festival de poesias neste contexto segue na contra-mão desse clima de mal-estar da civilização, como já sinalizou Freud. Essa iniciativa acena na perspectiva de que possamos construir juntas e juntos um estado de resiliência, de paz e amor, com atitudes de enfrentamento à perversidade dos que se empenham em continuar a ferir e segregar pessoas. Uma das actividades que tive a honra e a alegria de participar é o painel CUR’ARTE. Nessa agenda, falamos sobre a arte como ferramenta de cura individual e social. No final da semana anterior, eu acompanhei pela TV acontecimentos que revelaram muito sobre o comportamento irracional das pessoas, a partir do ódio que guardavam em si. Tive a oportunidade de assistir ao menos dois episódios em que os populares invadiram imóveis para vandalizá-los, na cidade de Maputo. Houve também a casa de um político que foi alvejada por balas de armas de fogo. As justificativas que foram dadas não são plausíveis à luz de alguma razoabilidade. Assim, a nossa percepção é a de que a raiva, a impaciência e a descrença nos políticos, na polícia e na política é uma realidade. Dessa forma, o que temos observado são manifestações em que a desesperança e o desamor têm-se manifestado de maneira muito acentuada. Leia mais… Fotos & Video: Pl’Arte D’Alma Você pode gostar também ENVOLVENDO SERVIDORES PÚBLICOS: Crimes de corrupção preocupam GPCC Comunidades pedem retirada de licença a operador florestal PESQUISA E PRODUÇÃO DE HIDROCARBONETOS: Contratos do sexto concurso à espera do visto do Tribunal Vinte e dois casos de rapto em um ano ATELIER DE LETRAS: A minha alma está no continente africano. 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