Sexta-feira, 14 Março, 2025
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Editorial

Por Jornal Notícias
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A chuva intensa que acompanhou a passagem da tempestade tropical severa Jude, com maior incidência no Norte do país, é um dos assuntos que marcam a actualidade em Moçambique. Para além de mortos e feridos, este fenómeno meteorológico deixou um rasto de destruição cuja dimensão está ainda em avaliação.

Em Nampula o fenémeno provocou, até agora, a morte de seis pessoas e feriu vinte, para além de aproximadamente 1863 famílias afectadas, 908 casas completamente destruídas, quando se está ainda a fazer o levantamento.

Há pelo menos oito cortes de estradas, três dos quais na N1, a principal rodovia que liga o país do Sul a Norte.

O cenário força as autoridades a redobrarem os esforços de modo a socorrer as vítimas e também se ocuparem pela reposição da transitabilidade das vias afectadas pelas intempéries.

Facto preocupante: é a terceira tempestade que assola mais ou menos a mesma zona em quase três meses. Pode-se afirmar que a frequência destes fenómenos extrapola, de certa forma, as previsões meteorológicas, aumentando a pressão sobre os escassos recursos de que o Governo dispõe para assistência às famílias e não só.

Neste quesito, vale recordar que aquando da aprovação do Plano de Contingência para a Época Chuvosa e Ciclónica 2024/2025 o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) estimou em nove mil milhões de meticais o défice, para um orçamento fixado em 11 mil milhões de meticais para responder às necessidades de emergência.

Trata-se de uma realidade desafiadora e que chama à atenção de todos para a necessidade de solidariedade interna, num contexto em que o país precisa de continuar a dotar-se de infra-estruturas resilientes, porque estes fenómenos, associados às mudanças climáticas, vieram para ficar.

Vale aqui ressaltar que os ciclones ocorrem num momento em que o país continua a viver um ambiente atípico, caracterizado por focos de desordem que perturbam o curso normal da economia, fragilizado ainda mais a capacidade para a mobilização de receitas públicas.

A ocorrência destes temporais não apenas agrava a emergência do ponto de vista de assistência humanitária como também ameaça a integridade de algumas infra-estruturas, como o Porto de Nacala, que apesar do enorme investimento realizado nos últimos anos a sua viabilidade pode estar em causa devido à erosão na parte alta da cidade, que ameaça cortar os acessos.

Significa que falar da viabilidade do porto é falar também da sobrevivência do município de Nacala, que precisa dum plano emergencial para conter a erosão, que já começa a perigar a integridade de algumas das suas infra-estruturas.

Porque ainda estamos na época ciclónica, não podemos terminar esta nossa reflexão sem reconhecer o trabalho realizado pelos órgãos ligados à prevenção das calamidades naturais, que resulta na redução do número de mortos devido a fenómenos naturais.

Esperamos igualmente que as autoridades da Saúde estejam à altura de conter a propagação da cólera, associada à deterioração das condições de saneamento do meio por causa da chuva, que ainda cai.  

Foto: Féling Capela

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