Sábado, 22 Março, 2025
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TOXICODEPENDENTES: Mulheres superam vício e voltam a sonhar

Por Jornal Notícias
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A CADA ano, o número de mulheres envolvidas no consumo e venda de drogas aumenta, gerando preocupação às autoridades sanitárias, que alertam para o facto de a ingestão de estupefacientes ser a principal causa de doenças mentais no país.

Este facto é evidenciado pelos dados do Hospital Psiquiátrico do Infulene, na cidade de Maputo, que apontam para mais de 1400 o número de mulheres internadas com doenças mentais graves causadas pelo consumo de álcool, heroína, cocaína, metanfetamina, ecstase e “cannabis sativa”.

Muitas delas são levadas ao hospital quando os distúrbios mentais já se encontram em estado avançado, estágio no qual reduz, significativamente, a hipótese de recuperação e reintegração social.

Entre os toxicodependentes que buscam ajuda, há mulheres que conseguem superar e sair do mundo das drogas, tornando-se uma fonte de inspiração para muitas outras que desejam seguir o mesmo caminho, livres de substâncias psicoactivas.

O “Notícias” teve a oportunidade de acompanhar uma sessão de terapia de grupo no Hospital Psiquiátrico de Infulene, um espaço onde mulheres de diferentes idades, acompanhadas pelos seus familiares, partilharam histórias de como entraram e lutam para sair daquele mundo onde, apesar das dificuldades, a liberdade revela-se possível.

Durante a sessão, entre lágrimas, tremores, risos e nervosismo, elas expressaram as dificuldades diárias que enfrentam para abandonar o consumo destas substâncias. Com idades que variam entre 16 e 35 anos, relataram que entraram no vício por várias razões, a destacar a busca pela diversão, curiosidade, timidez e até o desejo de agradar aos amigos.

Hábitos que adensam a prostituição

DEPOIS de perderem emprego, muitos consumidores de drogas recorrem ao roubo, à prostituição ou mentem aos seus familiares, com o objectivo  de sustentar o vício a todo o custo.

A necessidade urgente de consumir droga faz com que o sentido moral e as consequências das drogas sejam ignorados, prejudicando as relações familiares e sociais.

O comportamento impulsivo e desesperado leva-as a roubar objectos de valor, primeiro dentro de casa e, posteriormente, em qualquer lugar onde a ocasião lhes favorecer, chegando até a situações de violência nos assaltos a pessoas e estabelecimentos comerciais. 

A história de F.Utonga, 23 anos, consumidora de múltiplas substâncias, é um exemplo claro deste comportamento. Para alimentar o vício, a jovem viu-se forçada a prostituir-se. No mundo das drogas, contraiu doenças crónicas e perdeu a esperança de recuperar a sanidade mental.

 “Comecei a beber por diversão. Quando não tinha, fumava cigarro, inalava substâncias tóxicas e até bebidas caseiras consumia. A minha família chegou a trancar-me em casa de forma a impedir-me de beber, até que um dia fugi para viver com as minhas amigas”, contou.

Após fugir de casa, Utonga foi viver “na casa das bonecas”, onde a única fonte de renda era o trabalho do sexo. No percurso contraiu o vírus HIV e desenvolveu esquizofrenia.

“Se o arrependimento matasse, eu estaria morta. Os meus pais encontraram-me na rua, a falar sozinha. Agora, apoiam-me. Já estou há um ano sem consumir drogas. Embora tenha recaídas de vez em quando, continuo a frequentar terapia e a tomar medicação, para garantir  melhoria e partilhar a minha experiência com os outros”, explicou.

Utonga sonha retomar os estudos e reencontrar o filho, que entregou ao suposto pai enquanto o vício tomava conta dela.

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