Opinião & Análise BELAS MEMÓRIAS: Homem precavido! Por Jornal Notícias Há 1 dia Criado por Jornal Notícias Há 1 dia 371 Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 371 COSTUMA-SE dizer que “um Homem prevenido vale por dois”. A expressão é usada para chamar a atenção à necessidade de sermos cautelosos, sobretudo em situações que nos podem colocar em perigo. Meu amigo Manuel segue esse princípio e tem-me surpreendido a cada encontro que mantemos. Já o descrevi neste espaço como um homem humilde, que andou distante da caneta por causa do trabalho infantil. Sim, ele foi, precocemente, emigrante ilegal, daqueles sugados pela África do Sul, o El dourado de muitos moçambicanos, mormente da zona Sul de Moçambique. Ele vive a sua modéstia de forma organizada, ou melhor, tentaorganizar-se ao seu nível e capacidade. mesmo a passo de camaleão, lá para as bandas da Moamba, numa localidade antes tida como recôndita e distante de tudo e todos. Ele reuniu coragem e instalou-se no que na altura até se considerava lugar onde Judas perdeu as botas. Paulatinamente, a expansão foi fazendo da sua zona um lugar diferente e o mercado passou também a ser atractivo e exigente, embora dependente da Matola para se abastecer e reabastecer os consumidores. Manuel vive do trabalho informal e vê a sua família a crescer em número e idade, dentro das privações que, diariamente, luta para combater. Está a caminho dos 44. Com o peso das dificuldades do presente, já carrega o fardo pesado do medo de reedição, no futuro. Em casa, tem a esposa e a filha de 14 anos, exímias trançadeiras. São uma referência na zona, quando o assunto é trançar, embora as residentes procurem seus serviços com menor frequência, comparativamente ao meio urbano. Ele também, quando está em casa, recebe homens, mulheres e crianças que o conhecem como excelente cuidador de “dread locks ou raster”, embora o seu forte seja atendimento ao domicílio e ou num salão da Matola. Contou-me, na senda da conversa sobre as manifestações, que o custo de vida está a apertar demasiadamente, pois os fornecedores de diferentes produtos deixaram de o fazer, tudo porque ficaram arruinados ou não o fazem por temerem que, de um momento para o outro, fiquem sem mercadoria, a favor do amigo do alheio. -Estou a ensaiar fazer um salão de cabeleireiro lá em casa. Mas parei justamente na viga e a razão prende-se com a falta de cimento na zona. -Mas os empreendedores com visão não deixam faltar material de construção nas zonas em expansão, porque o mercado é fértil. Como a tua zona não tem cimento? - Podemos estar a falar de momentos completamente opostos. Deves estar a pensar no período que antecedeu às eleições de Outubro. Era assim mesmo, mas eu estou a falar-lhe da actualidade, influenciada pelas manifestações. Violentas. - E se constróis ficas por lá? -Nada disso. Vou fazer um trabalho paralelo. Lembras-te que cada dia que passa deixamos de ser a mesma pessoa? -Como, assim? - Estou a falar do futuro. Nunca se sabe o que a vida nos reserva. Quando somos jovens, com energias para fazer certas coisas, sobretudo aquelas que nos fazem ganhar o pão e até prosperidade, nos esquecemos que o futuro pode nos revelar o contrário. O mesmo que hoje sobe um prédio de 10 ou mais andares sem dificuldades, amanhã pode não escalar o primeiro, sabias? Há muita boa gente que no passado construiu casas de sonho, autênticos monumentos, diga-se, mas de repente viu-se sozinha, sem os filhos para compartilhar o espaço e muito menos capacidade da sua manutenção. Isso acontece porque no passado não pensaram no futuro que é hoje, seu presente. Outros ainda tiveram a sorte grande, o “jackpot”, investiram e criaram filhos numa vida de fartura, tiraram-nos das escolas públicas para as privadas e depois viram-se obrigados a devolvê-los para lá, contra todos os constrangimentos que isso tenha causado às crianças. - Mas não é o teu caso, ou estou errada? -Claro que não é. Eu remo contra esta corrente. Depois conto-te as minhas motivações (…) Leia mais… Você pode gostar também BELAS MEMÓRIAS: No dia em que o comboio não apitou REFLEXÕES DA MUVALINDA: Não pare no nada DIGNIDADE E DIREITOS (177): (Herança, solidariedade-protecção familiar e a dignidade) REFLEXÕES DA MUVALINDA: Síndrome de Domingo BELAS MEMÓRIASDESTAQUESOpinião & Análise Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior TEATRO: Festival de Monólogos para artistas dos bairros Próxima artigo CÁ DA TERRA: Experimentei e gostei Artigos que também podes gostar CÁ DA TERRA: Experimentei e gostei Há 1 dia REFLEXÕES DA MUVALINDA: Não tirarei os versículos Há 2 semanas VENDA INFORMAL: sobrevivência ou mera normalização do ilegal? Há 2 semanas BELAS MEMÓRIAS: A fórmula divina Há 2 semanas CÁ DA TERRA: A razão dos mortos e dos vivos Há 2 semanas REFLEXÕES DA MUVALINDA: Pornografia Há 3 semanas