Segunda-feira, 31 Março, 2025
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Financiamento refém de factores sócio-culturais

Por Jornal Notícias
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O LEQUE de barreiras reside igualmente na esfera sociocultural, que interfere no acesso ao financiamento necessário para o início ou expansão dos negócios, com destaque para as normas patriarcais, detentoras dos recursos familiares, das quais depende o uso de bens e/ou a solicitação de empréstimos bancários.

A empresária Esperança Mangaze reconhece o fenómeno e fala de uma história de sucesso da empreendedora Assma, do ramo de confeitaria, que se tornou proprietária de várias escolas de culinária, em Maputo.

 “Assma começou a vender salgados feitos em casa para os vizinhos. As pessoas gostaram dos produtos e, à medida que as encomendas aumentavam, ela sentia a necessidade de expandir o seu negócio. Com o dinheiro amealhado, conseguiu construir uma casa”, relatou.

Foi nesse momento que Assma decidiu pedir financiamento para expandir o seu negócio, pois as encomendas eram muitas e o espaço disponível revelava-se cada vez mais pequeno. Para além disso, ensinava gratuitamente as vizinhas a fazer doces e salgados, de forma a ajudarem-na a responder à demanda crescente.  

“A primeira pergunta feita ao solicitar o crédito foi sobre o estado civil e se ela era funcionária do Estado. Por ser solteira, foi necessário chamar gestores do banco para avaliar a casa que construiu com o lucro das vendas. O tamanho e a beleza da residência impressionaram-nos levando à aprovação do seu pedido”, explicou.

Apesar das dificuldades, Assma conseguiu pagar a dívida a tempo e, hoje, tem escolas de culinária em Maputo e Matola, sendo um exemplo claro de persistência e superação.

“Existem muitas burocracias desnecessárias no processo de financiamento de negócios liderados por mulheres, o que dificulta o progresso de muitos empreendimentos. A criação de facilidades pode contribuir para o aumento do número de empresárias no país”, afirmou.

Mangaze destacou o impacto da pandemia de Covid-19, aliado à vandalização ocorrida durante as manifestações pós-eleitorais, no sector empresarial. Em 2020, o número de empresas caiu 58 por cento,  o que representa uma redução de 61,7 por cento devido aos efeitos da pandemia. Durante as manifestações, mais de 500 empresas foram destruídas em todo o país, afectando muitas empreendedoras que buscavam se firmar no mercado e expandir os seus negócios.

“Esses eventos reforçam a necessidade urgente da criação de  políticas públicas que promovam a inclusão e o empoderamento das mulheres, ajudando-as a superar as barreiras socioculturais e o acesso aos recursos, conducentes ao sucesso dos seus empreendimentos”, ressaltou.

Foto: Sergio Manjate

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