Opinião & AnáliseRecreio e Divulgação Indústria cultural à mercê da manipulação Por Jornal Notícias Há 3 dias Criado por Jornal Notícias Há 3 dias 493 Visualizações Compartilhar 1FacebookTwitterPinterestEmail 493 AMÁVEL PINTO NUM momento em que Moçambique procura afirmar a sua identidade cultural e reforçar a sua soberania artística, o cenário actual da promoção cultural no país revela-se cada vez mais preocupante. A banalização da cultura moçambicana, alimentada por uma dependência acrítica de iniciativas ocidentais, exige uma reflexão séria e urgente, e uma responsabilização clara do Governo. A abertura, quase automática, para projectos promovidos por indivíduos ocidentais, frequentemente mascarados de iniciativas de capacitação cultural, levanta sérias dúvidas sobre os critérios adoptados pelas autoridades. Quando se permite a utilização do símbolo do Estado, a bandeira, o brasão ou qualquer outro emblema nacional para validar eventos cujo real propósito é a promoção pessoal dos seus organizadores estrangeiros entra-se num perigoso território de conivência política e simbólica. Como explicar que um evento, dito de formação e capacitação cultural, propõe condensar quatro anos de estudo académico em apenas uma semana? Tal proposta não é apenas intelectualmente desonesta, mas profundamente ofensiva para todos os profissionais e estudantes que dedicam anos ao estudo sério das artes e da gestão cultural. É, na prática, uma caricatura do saber, apresentada como solução milagrosa a um povo sistematicamente privado de oportunidades estruturadas. A música que se ouve nesses eventos, frequentemente marcada por estéticas e linguagens exclusivamente ocidentais, não é neutra. É a trilha sonora de uma pedagogia de imposição, como quem diz: “É assim que se faz arte, aprendam connosco”. O que se propõe, no fundo, não é uma troca, mas uma colonização simbólica, uma subalternização do fazer artístico moçambicano perante os olhos do próprio Estado. A responsabilidade do Governo é grave. Em vez de proteger os seus fazedores culturais, abrindo espaço para o crescimento interno e para o fortalecimento de instituições locais, parece, muitas vezes, seduzido por um brilho estrangeiro artificial que, em muitos casos, não passa de um disfarce para agendas individuais e financiamento externo facilmente obtido sob o pretexto de “salvar a cultura griot africana”. Cultura essa que não precisa de ser salva, mas respeitada. José Craveirinha, nosso poeta maior, já denunciava esta postura nos seus versos, onde falava da “liberdade adiada” e da “consciência adormecida”. Hoje, a sua voz ecoa com força renovada. A liberdade cultural de Moçambique continua em risco, não apenas pela opressão directa, mas pela submissão disfarçada de parceria. O problema de fundo, no entanto, não reside apenas na acção dos estrangeiros, mas na nossa própria fragilidade. É a combinação entre uma estrutura económica debilitada e uma ganância individual que permite que se aceite, de forma acrítica, qualquer proposta embalada com um selo europeu. Pouco importa se há, dentro do país, quadros qualificados e capazes de formar, dirigir e inspirar. Não há vontade política para investir neles. E, como consequência, o país expõe-se a iniciativas que, longe de fortalecer, corroem o tecido cultural nacional. O Governo tem de ser mais selectivo. Tem de ter coragem para dizer “não” quando o que está em causa é o respeito pela nossa identidade. O tempo da bajulação cega ao Ocidente tem de chegar ao fim. E, mais cedo ou mais tarde, a corrupção, essa que se disfarça de “colaboração internacional”, terá de ser desmascarada. Enquanto isso não acontecer, a cultura moçambicana continuará a ser tratada como um troféu exótico em mãos alheias. E isso, simplesmente, não é aceitável Arte: De Landraad te Colombo, Rijksmuseum Leia mais… Você pode gostar também BELAS MEMÓRIAS: Forçado a regressar à casa Artistas sugerem criação de Conselho de Combate à Pirataria Rapper moçambicano oferece lanches para alunos no Púngue M’Bêu apresenta “Sujo(s)” no Brasil Indústria cultural à mercê da manipulaçãoOpiniao Amavel Pinto Mocambique Compartilhar 1 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Financiamento refém de factores sócio-culturais Próxima artigo Privados denunciam actos de corrupção no Niassa Artigos que também podes gostar Denzel Washington e Jake Gyllenhaal batem recorde de bilheteria da Broadway Há 3 dias “Cultura não se vende, defende-se” Há 4 dias CRÓNICA Há 4 dias Nilsa Carona primeira moçambicana a alcançar um milhão de seguidores no TikTok Há 5 dias País acelera preparativos para a EXPO-2025 Há 5 dias “Arte Insensata” desafia limites da criatividade Há 5 dias