Sexta-feira, 22 Novembro, 2024
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EDITORIAL

Por Issa Likwembe
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A ONDA de desinformação sobre a cólera que acontece, sobretudo, no centro e Norte do país está a atingir contornos preocupantes, cuja contenção demanda medidas urgentes. Este fenómeno, recorrente em certas áreas, coincidindo com a época chuvosa, aliada ao deficiente saneamento, propicia a propagação do vibrião colérico.
Atendendo aos níveis de fatalidade da cólera (25 mortos em três meses) é difícil digerir que haja gente a não acatar os apelos das autoridades sobre a necessidade de prevenção da doença.
Fazemos esta reflexão numa altura em que nos distritos de Montepuez, Balama, Chiúre, Ancuabe, Macomia e Meluco, em Cabo Delgado, há relatos de morte de líderes comunitários; casas incendiadas, agressões a profissionais de saúde e agentes da Polícia, sob alegação de estarem a disseminar a cólera.
A responsabilidade por manifestações violentas e desinformação em torno da origem da cólera é atribuída, em alguns casos, aos Naparamas, um grupo que se propunha reforçar o combate ao terrorismo, mas que pela sua conduta torna-se, também, motivo de insegurança.
Não é a primeira vez que grupos que se propõem a fazer o bem ao Estado viram-se contra ele, quando se trata de implementar medidas sanitárias. Há seitas religiosas que instigaram a população a não aderir a programas de vacinação.
E, porque o mal se deve cortar pela raiz, urge repensar-se na responsabilização criminal dos que promovem tais actos, visto não ser admissível gente que tende a afrontar o Estado, impedindo a assistência médica à população.
Em nossa opinião, a adesão a este tipo de desobediência pode ser indiciadora de que, como país, temos ainda muito trabalho em termos de Educação do cidadão.
Entretanto, vale a pena enaltecer a iniciativa das autoridades da província da Zambézia de envolver os principais mentores da desinformação como agentes de sensibilização para a vacinação contra a cólera.
Retomando o fio de pensamento, há necessidade de melhorar o acesso à informação, o que passa por uma educação permanente, sobretudo, em áreas com baixo grau de literacia, sem esperar a eclosão de doenças.
É de enaltecer a campanha de vacinação contra a cólera em curso nos distritos onde o surto está activo, o que minimiza o risco de novas infecções, e, quiçá, evita consequências mais desastrosas.
De igual modo, são encorajadoras as informações de que a campanha decorre a bom ritmo, mas, mais do que vacinar, entendemos nós, é preciso não perder de vista outras medidas como a lavagem das mãos, uso de latrinas ou purificação da água.
Dizemos isto porque é justamente por estas épocas que o país se ressente do impacto das mudanças climáticas (ciclones, cheias ou secas), facto que, associado às deficiências de saneamento, favorece a eclosão da cólera e de outras enfermidades.
Somos, por isso, pela coordenação do esforço interinstitucional para aprimorar, por exemplo, a recolha de lixo num contexto de rápido crescimento demográfico, até porque a responsabilidade do combate a surtos como a cólera não é apenas do sector da Saúde. Cada um deve fazer (e fazer bem) a sua parte para o bem de todos.

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