Opinião & AnáliseSem categoria Cá da Terra: Nostalgia Por admin-sn Há 10 meses Criado por admin-sn Há 10 meses 4,7K Visualizações Compartilhar 0FacebookTwitterPinterestEmail 4,7K A VELHA loja do meu bairro, já não “respira” o mesmo alento de outrora. Só lhe resta o nome de outros tempos, que dá essência e história a um lugar mítico para a população local. Noutros tempos ela se erguia ali como a principal fonte das provisões. Hoje em dia são os contentores que rivalizam entre si, mesmo de tanto se questionar a qualidade do que é entregue como produto final. A existência da velha loja está a ser massacrada pelas marcas da modernidade. Os moradores do bairro, os mais velhos, ainda não se esqueceram das aventuras da velha loja, mas os mais novos só sabem que o contentor é que está a dar, contanto que a oferta é mais diversificada. A quantidade dos lojistas abastecedores era bem grande que tinham de tudo, chapas de zinco, vinho, pão, farinha, açúcar, lenha e carvão, que cabia muito bem para resolver a tristeza da família. Ali também podiam ser encontradas vassouras; materiais de construção como cimento, martelo, arame, parafusos e etc. Agora só ficaram de memória alguns nomes como Vieira, Bela Rosa, Beira Mar, Diamantino, Ximadjane, Tijuca, entre outras. O pão, ainda fresquinho, do Serrano ou do Edgar só tinham espaço na sacola de pano e não nos plásticos de hoje. Alguns dos produtos, sobretudo os frescos, eram trazidos directamente da machamba, isto é directo do produtor para o consumidor. Foram locais de referência da comunidade que até hoje são lembrados pelos nomes dos proprietários. Havia a liberdade de anotar no caderno, o que é tão raro nos dias de hoje que o “vale” é apenas de bebida. O sistema funcionava tão bem porque o lojista conhecia bem os seus clientes, por isso nunca havia problemas. Estava cheio de gente honesta por isso não havia como haver problemas. O que valia mais era a confiança e a palavra. O lojista se parecia mais como um membro da família de todos os seus clientes. De comerciante não tinha quase nada, mas era ele quem garantia e aprovisionava. O cheiro a especiarias marcava de forma distinta as lojas dos comerciantes indianos que vieram ocupar o espaço um pouco mais tarde. Por causa do vinho e da cachaça, algumas destas eram locais de encontro dos mais velhos, onde a vizinhança punha o papo em dia e cimentava relações. Discutia-se de tudo, mas a política e o futebol dominavam. Para além das lojas, também desapareceram os quintais com hortas e capoeira lá no fundo. A madrugada era marcada pelo cacarejar das galinhas que hoje são a cobiça dos amigos do alheio que não falta a vontade de o dono fechá-la dentro de casa. A capoeira atrai e dormimos com o medo de nos assaltarem, de nos raptarem os filhos e os familiares. Hoje vivemos permanentemente em alerta e com inúmeros medos. É o nosso brilho o que mais nos assusta. É comum, quando crianças, termos medo. Mas temos medo porque temos a consciência de perigo que a vida adulta empresta. Se quando criança não via filmes de terror hoje nos deparamos com o terror estampado em todo lugar, naqueles que sofrem por abandonarem a sua vida, as suas casas. Sentir medo faz-nos recordar que temos vida e que um dia chega a nossa hora de partir. Você pode gostar também BELAS MEMÓRIAS: Um dia em Tongshan Máquinas agrícolas na vanguarda da participação da Tailândia na FACIM 59 BELAS MEMÓRIAS: A lição de Zengzi BELAS MEMÓRIAS: Tony na Clínica Compartilhar 0 FacebookTwitterPinterestEmail Artigo anterior Polícia diz estar à procura de pistas do jovem raptado Próxima artigo BELAS MEMÓRIAS: O tempo de dizer adeus Artigos que também podes gostar BELAS MEMÓRIAS: Fragilidades! Há 2 dias CÁ DA TERRA: Uma bonança bem antecipada Há 2 dias REFLEXÕES DA MUVALINDA: Direitos humanos Há 5 dias Vamos parar com isto… Há 1 semana BELAS MEMÓRIAS: Como regressarei à casa? Há 1 semana CÁ DA TERRA: Morrer à fome ou de doenças Há 1 semana