Sexta-feira, 22 Novembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: O tempo de dizer adeus

Por admin-sn
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ANABELA MASSINGUE (anmassingue@gmail.com)

NÃO sei se há quem gosta do momento da despedida. Pessoalmente detesto-o e se fosse possível contorná-lo eu o faria quantas vezes fossem necessárias.

Receber alguém e depois ouvi-lo a dizer, sobretudo com alguma solenidade, que se vai embora, provavelmente por longo tempo, cria em mim uma sensação desagradável, quando arrasta até nós a nostalgia. O melhor sempre é ouvir ou dizer “boas vindas”. 

Por alguns meses, a nossa Redacção foi frequentada por uma criatura interessante. Na verdade, muitas por aqui passaram. Umas se firmaram, permaneceram e passaram a fazer parte da família. Muitas foram para outras instituições, depois de deixarem lembranças, algumas das quais interessantes e inesquecíveis, uma vez cumprido o estágio curricular.

Outros ainda vieram mesmo com o propósito de, terminado o aprendizado, tentar a sorte em caso de haver novas admissões e, quando não conseguisse despediam-se ou simplesmente desapareciam por não ter satisfeito o almejado.

Pessoalmente perdi contas do número dos que fizeram parte da casa por essa via. Às vezes a memória não guarda características de alguns porque, como disse, já foram inúmeros os rostos que deram entrada à porta de todos nós, do lado da Joe Slovo, 55. Uns vieram mais jovens e com o tempo cresceram sendo difícil, hoje, reconhecê-los já fora da nossa casa comum. Nalgumas situações, eles é que tomam a iniciativa de se auto apresentar e ajudarem a rebuscar o que está bem guardado no mágico armazém da memória. 

De entre os que por cá passaram, está a pequena Sharlen. Confesso que tive dificuldade de desvendar o seu “eu”, pois não mantivemos contacto directo. A menina é de uma infantilidade surpreendente com um misto de responsabilidade na hora de abordagem de assuntos. Notei isso todas as vezes que interagia com a editora que acompanhava o seu desempenho diário. Alguns momentos de interação e as discussões terminavam com alguma graça típica de uma jornalista de palmo-e-meio que num momento demonstrava a seriedade com o que fazia e às vezes desnudava a inocência estampada também no seu rosto.

Durante o tempo em que partilhei com ela o espaço, não pude ver quão encarava o que andamos aqui a fazer, senão na última quinta-feira, quando se aproximou para me dizer que ia deixar de fazer parte desta família que acredito sermos, todos nós que diariamente convergimos neste lugar.

Quando emitiu as primeiras três palavras entendi que se tratava de despedida ainda que dita de forma tímida e hesitante, seguida de um“ vale de lágrimas”. Sim, a pequena Sharlen não ficou pela lágrima no canto do olho, como diz o “cota” Bonga, o homem das líricas lá de Angola. “Regou” o seu rostinho de menina e interrompeu o que dizia. Foi ai que caiu a ficha e descobri antes mesmo de perguntar se ela teria gostado de estar neste meio.

São 18 anos feitos a caminho do 19º com muita coisa pela frente por fazer. Não achei que houvesse motivos para lágrimas, pois ainda há muito tempo para sonhar e concretizar o sonho, muita estrada por percorrer e rios por cruzar, numa adolescência da sua idade. Salvo erro, ela deve ter sido a estagiária mais nova que a casa teve.

O lado mau da despedida é também em parte este, de tornar os momentos mais emocionantes e até com um cunho de tristeza, mesmo quando não há espaço para tal, como aconteceu com a pequena Sharlen, na hora de dizer adeus.

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