Domingo, 24 Novembro, 2024
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DA CONSULTA À GRAMÁTICA: Elevar a auto-estima!

Por Jornal Notícias
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Delfina Mugabe

SENTIR-SE bem no meio social a que pertence, nomeadamente entre parentes, colegas, amigos, vizinhos, etc., faz bem e ajuda a melhorar a auto-estima. Infelizmente, nem todas as pessoas pensam dessa forma. Por isso, não fazem nenhum esforço para agir de modo diferente, preferem se acomodar naquele que lhes parece mais fácil.

 Esta observação vem a propósito do tema desta semana da “Consulta à Gramática” sobre a necessidade de observar ou não as questões normativas de qualquer que seja a língua, neste caso, da língua portuguesa. “Há ou não necessidade de respeitar as questões gramaticais, ou basta comunicarmo-nos”? – Esta é a pergunta que procuramos responder hoje. Ora, vejamos:

A linguagem oral é diferente da escrita. Na oralidade, geralmente, usamos a linguagem coloquial ou informal e não nos preocupamos com questões normativas do idioma, pois quando falamos fica claro pela entonação, linguagem facial ou corporal que se trata de uma afirmação, interrogação, exclamação, etc. Mesmo assim, o contexto da comunicação vai determinar os termos a serem usados, nessa situação da oralidade.

Quando falamos com os amigos ou familiares, utilizamos a linguagem informal, constituída por marcas da oralidade, quer sejam abreviações, erros de concordância, expressões menos prestigiadas, quer seja prosódias. Todavia, durante a comunicação com colegas, no local de trabalho, sobretudo, com pessoas hierarquicamente superiores, as marcas da oralidade devem ser abandonadas, uma vez que a interacção acontece num contexto de linguagem formal. O mesmo acontece quando se trata de um evento público, os intervenientes devem fazer esforço para evitar a linguagem informal. Isso não significa que ela seja errada, mas que o seu uso depende do contexto.

Quanto à escrita, regra geral, está associada à linguagem culta ou formal. Por isso, não se deve produzir as falas e os modos que são usados na oralidade, porque isso concorre para o empobrecimento do texto. Este tipo de linguagem exige que as regras desse idioma sejam respeitadas, por exemplo, os sinais de pontuação, a concordância verbal em número ou pessoa gramatical.

Por outro lado, a complexidade da escrita envolve, também, factores psicológicos, segundo a Linguística Textual, pois a ausência do leitor no momento da produção escrita exige estratégias de elaboração da informação distintas da comunicação oral, uma vez que o texto concentra em si referências contextuais para ser adequadamente interpretado.

Portanto, a Comunicação Social, tal como os jornais, rádio pública, televisões, desempenham uma função honrosa de informar e formar os cidadãos. Neste contexto, entendemos que nenhum órgão de informação se satisfaz, apenas, com a divulgação da informação. A sua inteligibilidade é muito importante, também.  Por exemplo, o que pretendia transmitir o autor desta mensagem: “As mulheres são menos privilegiadas em detrimento dos homens”.

No nosso país, falantes há que usam, com alguma frequência, os termos de “desconseguir”, “populares”, sem nenhum tipo de constrangimento. Só que, de acordo com o léxico, o verbo “conseguir”, é transitivo, cujo sentido é “chegar a uma determinada posição ou objectivo”; “entrar na posse de”; “obter ou alcançar algo”. Nesse contexto, requer um complemento para que faça sentido: Espero conseguir alcançar os meus objectivos este ano. O seu oposto, de acordo com a norma, é “não conseguir”.

Portanto, a palavra “desconseguir”, no português padrão, significa “desfazer algo que se tenha conseguido” e não tem o sentido de negação. Mas, em Moçambique o significado do vocábulo “desconseguir” é “não conseguir”. Assim, não estaria errado para o falante do português moçambicano afirmar: “desconsegui sair de casa hoje devido à chuva”, pois teria o sentido de “não ter conseguido sair de casa”. Porém, ressalva-se que a aceitabilidade desta construção frásica tinha de ser num contexto informal.

No contexto da escrita, o correcto é empregar o prefixo “des” com o sentido de desfazer algo, tendo em conta o carácter formal deste tipo de linguagem. Um outro “vício” da linguagem é a utilização do termo “popular”, como um substantivo, sabendo que se trata de um adjectivo qualificativo. Enfim, este assunto já foi tratado diversas vezes neste espaço.

Feita a observação, sublinha-se que mesmo nas situações de discurso oral, podemos utilizar a linguagem formal, sobretudo, em casos de comunicação com o público, se quisermos elevar a nossa auto-estima.

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