CARTAS AO BARÃO…: Daniel Firmino leva recado de Samora…

ALMIRO SANTOS

DANIEL Firmino foi o porta-estandarte da delegação olímpica de Moçambique nos Jogos de Los Angeles, em 1984. O antigo lançador do Ferroviário de Maputo foi quem, orgulhosamente, elevou bem alto a bandeira da então República Popular de Moçambique no “Los Angeles Memorial Coliseum”, onde o então presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, procedeu à abertura da XXIII olimpíada. Um ano depois, em 1985, o Presidente Samora Machel visitaria os Estados Unidos da América…

Também conhecido como o “365”, devido ao facto de se treinar todos os dias, incluindo sábados e domingos, Daniel Firmino era um exímio lançador de peso, mas também disputava provas de salto em comprimento, de triplo salto e ainda as de 110 metros barreiras. Quem melhor do que ele para erguer a bandeira da República Popular de Moçambique nos Estados Unidos da América, na singular premiação a um homem inteiramente dedicado ao desporto moçambicano? 

Mas a bandeira de Moçambique, esvoaçando pela primeira num recinto desportivo dos Estados Unidos pelas mãos de Daniel Firmino, também transmitia um recado do Marechal Samora Machel ao todo-poderoso Presidente Ronald Reagan, pois que no ano seguinte a este episódio no “Los Angeles Memorial Coliseum”, o presidente moçambicano desembarcava em Washington com toda a exibição e aparato que esta viagem mereceu.

Antes de sairmos deste atalho político sobre os jogos que, momentaneamente, ofuscaram o brilho cinematográfico de Hollywood, merecem ser recordadas as consequências da visita do Presidente Samora aos Estados Unidos, retiradas do livro “The Good American” (O Bom Americano) de Robert Kaplan, um conhecido escritor de política internacional, que revela que Ronald Reagan reuniu com os seus conselheiros e disse, ipsis verbis: “Parem de imediato aí, rapazes. Temos um relatório que vai ser publicado, na próxima semana, que indica que a Renamo é um punhado de assassinos”.

A visita de Samora, precedida do “recado” de Daniel Firmino, começava a dar resultados…

Quanto à competição propriamente dita, Moçambique levou 10 atletas para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, dos quais apenas dois nadadores, Domingos Chivalele, nos 100 metros livres, e Joaquim Cruz, nos 100 e 200 metros costas. Os restantes integrantes competiram em várias disciplinas do atletismo: Vicente Daniel (100 e 200 metros), Domingos Mendes (400 metros barreiras), Henrique Ferreira, Pedro Gonçalo, Leonardo Loforte e André Titos (4×400 metros estafeta). André Titos, ainda disputou uma eliminatória dos 800 metros, Leonardo Loforte uma prova dos 400 metros e Henrique Ferreira tentou também nos 200 metros.

Apesar da muita vontade dos nossos atletas, a verdade é que o atletismo, em Los Angeles, estava destinado a um americano, Willian Frederick Carlton Lewis. De seu nome nos meandros desportivos, Carl Lewis arrebatou quatro medalhas de ouro, a primeira das quais nos 100 metros, prova que venceu com 20 centésimos e dois metros e meio de vantagem sobre o segundo classificado, o seu compatriota Sam Graddy, correndo a distância em 9 segundos e 99 centésimos!

No resto, foram uns jogos em que o boicote dos soviéticos atingiu, indirectamente, uma das mais emblemáticas empresas norte-americanas de então, a McDonald’s, que tinham uma campanha intitulada “Quando a América ganha, você ganha”, que consistia em oferecer a todos os seus clientes um hambúrguer de cada vez que os Estados Unidos ganhavam uma medalha de ouro, uma dose de batatas fritas pela medalha de prata e um refrigerante pela de bronze.

De tanto ganharem os EUA, o resultado desta empreitada inédita foi um prejuízo retumbante para a McDonald´s, mais tarde até satirizada na conhecida série televisiva “Os Simpsons”, com Lisa e o palhaço Krusty…

PS: Caro, Pierre. Importas-te de dar uma saltada a Saint-Paul-lès-Dax? Estão lá os nossos atletas a treinar-se para os jogos. Com jeitinho, diz ao Tiago para economizar energias. Vimo-lo nos treinos bastante empolgado…

Leia mais…