Sexta-feira, 22 Novembro, 2024
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Adopção: será que é um negócio?

Por Jornal Notícias
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Sílvia Panguane

MOÇAMBIQUE é conhecido por ser um país onde até os assuntos mais nobres se tornam complicados. Fazer o bem para alguém, especialmente se for uma criança, parece ser tão desafiador quanto uma missão dos melhores serviços secretos americanos.

A realidade da adopção no país enfrenta inúmeros obstáculos que vão contra os interesses das crianças e das famílias adoptivas. Vários ministérios estão envolvidos, mas, em vez de colaborarem, parecem sentados nas suas cadeiras, lavando as mãos e evitando concluir os processos.

Muitos de nós enfrentamos essa dificuldade, onde tudo aparenta ser legítimo, mas alguém ou algo sempre surge para complicar a situação. Actos ilegítimos, cometidos por algumas pessoas ao longo do processo, são frequentemente denunciados, porém esses indivíduos permanecem nos seus cargos, provavelmente impunes, enquanto quem denuncia fica refém de processos que se arrastam por anos.

Mesmo com todos os trâmites legais e procedimentos cumpridos, muitos processos aguardam o despacho final. Será que, após anos vivendo com a família adoptiva, a criança não merece viver plenamente a própria vida e deixar de ser refém de um sistema que só pede e nunca entrega?

O emaranhado entre os departamentos de género, criança e acção social, curadoria dos menores e tribunais parece criar de propósito uma rede intrincada de transferência de responsabilidade, onde as crianças e as famílias adoptivas são jogadas de um lado para outro. As respostas parecem parciais ou evasivas. As famílias e os menores não têm como sair dos processos porque, sempre que se aproximam do fim, alguém envolvido encontra uma razão para fechar as portas ao despacho final.

Em Moçambique, as estatísticas mostram que grande número de crianças de rua, sujeitas a desvios sociais, precisa de ajuda. Quando elas encontram esse apoio, também, enfrentam um sistema que, apesar de ser completamente gratuito, aparenta não querer avançar com os processos de forma digna.

Qual é o futuro que queremos para as nossas crianças?

Qual é o futuro que queremos para Moçambique?

A adopção é reconhecida por muitos como um dos maiores actos de amor, onde se forma um vínculo familiar com sangue diferente. Uma família que se ama com a máxima naturalidade, simplesmente, porque Deus escolheu que vivessem um amor gratuito, onde há possibilidade de unir corações em um só.

Queremos dar um futuro melhor aos nossos filhos e filhas de Moçambique. Queremos processos de adopção limpos e que tenham um fim, sem necessidade “daquela ajuda” que muitas vezes, infelizmente, favorece a pessoas erradas.

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