Segunda-feira, 23 Setembro, 2024
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África polui menos, sofre mais e fica estagnada na produtividade

Por Anabela Massingue
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ANABELA MASSINGUE

…MUITAS emissões não são de África, pois este continente só tem 4% do total dos gases emitidos pelos maiores detentores da indústria de transporte e de geração de electricidade… foi com estas palavras que o académico Almeida Sitoe enquadrou o problema da poluição, no contexto das mudanças climáticas, cujos efeitos concorrem para a pobreza.

Falando em Maputo, na esteira da 13.ª conferência da Sociedade Africana de Ciências Agrárias, havida esta semana, sublinhou que África é das emissões mais baixas que as estatísticas revelam.

A contribuição de 4% das emissões globais é atribuída a países com grandes indústrias como África do Sul, com 2%, e os restantes para a Nigéria. Mesmo diante desta realidade, o continente africano é vulnerável às mudanças climáticas porque, explica, apesar das fronteiras administrativas, o clima não age em função das mesmas.

Referiu que a subida de temperatura, com a variação de precipitação, formação de ciclones, secas, etc., obedece os ciclos biológicos e químicos que regulam a atmosfera.

A vulnerabilidade acontece em vários contextos, mas a grande diferença é que África não está preparada para fazer face a eventos climáticos extremos, por não possuir infra-estruturas adequadas para suportar um ciclone, por exemplo.

“O nosso continente não tem economia suficiente para reconstruir o que vem sendo destruído, nem capacidade institucional para gerir os impacto desses eventos de forma coordenada, de modo a reduzir o número de deslocados e evitar que haja mais vítimas mortais, deslocados ou eclosão de doenças”, detalhou.

Em face deste cenário, a ciência chama atenção para um trabalho complexo em torno da abordagem da vulnerabilidade climática, que é nada mais que o envolvimento de  instituições, infra-estruturas, sociedade, cultura, economia, resumidamente: tratar do desenvolvimento.

Em relação à causa da fome que afecta o continente, Almeida Sitoe recuou no tempo para explicar que nos anos 60 a produtividade média de cereais em África era de cerca de uma tonelada por hectare.

“A América produz actualmente perto de seis a sete toneladas em área similar, mas o continente africano continua a produzir na proporção de uma tonelada por hectare, com uma população que aumentou cinco vezes. A pergunta é: para esta diferença, de onde virá a alimentação para estas pessoas? É por isso que o continente africano é deficiente em alimentos e continua a depender de importações”, disse.

O académico considera a realização de eventos como a 13.ª conferência uma contribuição da ciência na busca de soluções para o fim deste problema, que passa por aumentar a produtividade. “O potencial existe e tem de ser explorado. Vai daí que os agrónomos estão aqui reunidos para ver de que maneira se pode interagir entre políticos, investigadores e produtores para melhorar a situação”, disse.

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