Sexta-feira, 10 Janeiro, 2025
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Xitsungo: Um pequeno ladrão ou um grande herói?

Por Jornal Notícias
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ANTÓNIO FOGUETE

A PERGUNTA ecoa na mente de muitos enquanto o jovem, envolto em aplausos e admiração, torna-se o símbolo de uma sociedade que parece ter perdido o rumo. A viralização de sua imagem nas redes sociais trouxe uma avalanche de convites para programas de televisão, prémios e até mesmo quantia significativa de dinheiro. O que era para ser um acto de desespero transformou-se num espectáculo de reconhecimento e, para muitos, uma estranha forma de sucesso.

Mas o que se esconde por trás desse fenómeno? Dezenas de crianças começaram a imitar o jeito de falar e de agir de Xitsungo. A ideia de que o crime pode ser uma via para uma vida melhor ganhou força. Afinal, se ele foi aplaudido, por que não tentar o mesmo? O roubo, que deveria ser condenado, agora parece ter se tornado um atalho para a fama e a fortuna.

Em meio a essa confusão, surge uma questão perturbadora: qual é o papel da mídia nesse cenário? A função dos meios de comunicação é, ou deveria ser, educar e transformar a sociedade. No entanto, a cobertura do caso Xitsungo parece ter alimentado uma cultura de celebração do crime. O que estamos aplaudindo quando reconhecemos o garoto? Talvez a sua coragem de roubar.

O caso de Patenteamento e as premiações que cercam o fenómeno do Xitsungo começam a inspirar muitos meninos da mesma idade ao observar os ganhos que esse acto de roubo gerou. Não nos surpreendamos se, mais cedo ou mais tarde, esse fenómeno der origem a milhares de novos “Xitsungos”.

A maneira como esse tema foi abordado pela mídia me remete a teoria de “balas mágicas” ou teoria da “agulha hipodérmica”, que surgiu na década de 1920 e sugere que a mídia tem um impacto directo e poderoso sobre o público, como se as mensagens difundidas fossem injectadas nas mentes dos indivíduos, levando-os a adoptar determinadas crenças ou comportamentos de forma quase automática. Este é um ponto de partida para discutir como a mídia pode influenciar no comportamento dos indivíduos (neste caso das crianças) a partir do Framing ou seja da forma como um assunto é apresentado (o enquadramento).

Não obstante, a maneira como muitos aplaudem o comportamento do Xitsungo evoca em mim uma outra teoria: A teoria da “Espiral do Silêncio”, proposta pela socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann na década de 1970, segundo a qual “os meios de comunicação têm o poder de silenciar ou amplificar certos fenómenos sociais”. A forma como as redes sociais e, especialmente, os meios de comunicação tradicionais abordam determinados temas pode influenciar a opinião pública, especialmente entre os cidadãos menos críticos, como as crianças, que podem acabar legitimando actos indecentes.

É importante lembrar que já foram reportadas dezenas de casos chocantes de crianças em situações semelhantes ou até piores que a de Xitsungo. Mas enquanto Xitsungo brilha nos holofotes, outros permanecem nas sombras, sem qualquer reconhecimento ou assistência. Órfãs que cuidam de irmãos mais novos, sem tecto, sem comida e sem esperança e observam a ascensão de um garoto que, depois de um furto é recebido como um estrela.

Não estamos aqui a passar um recado a estes meninos de que o crime “valapena”?

Aos que aplaudem Xitsungo, deixo uma reflexão: Que lição estamos realmente ensinando a ele e a tantos outros da sua faixa etária?

Xitsungo, que você use sua nova fama para transformar sua vida e a de outros. Que a sua história não seja apenas um espelho de uma sociedade que aplaude o erro, mas um chamado à mudança.

Arte: Fredy Uamusse

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