Terça-feira, 25 Fevereiro, 2025
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Está a cair chuva na sala 6!

Por Jornal Notícias
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VANESSA SISSI LÁZARO MACAMO

NUM país onde, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Moçambique (2017), a população total era de 27.909.798 habitantes, e onde, aproximadamente, 13.774.024 indivíduos tinham entre 0 e 14 anos de idade, representando cerca de 45,81 por cento da população, em idade escolar, é estarrecedor (aterrorizante) constatar que o estado das infra-estruturas educacionais continua a ser uma calamidade nacional.

Chove dentro da sala 6. A expressão, que deveria soar absurda é, infelizmente, um retrato fiel da realidade vivida por milhares de crianças moçambicanas. Recebi uma foto que circula nas redes sociais, da qual a fonte original desconheço, que retrata a imagem da chuva que entra na sala 6, e que me levou a fazer esta reflexão.

A sala 6 ali retratada é só mais uma das inúmeras salas em todo o país. Em diversas escolas pelo país, sobretudo nas zonas rurais, os alunos não apenas enfrentam a escassez de professores, materiais escolares e alimentação adequada, mas também estudam sob tectos que, muitas vezes, de tecto só têm o nome.

A precariedade das infra-estruturas educativas demonstra a necessidade urgente de transformar o actual lema do Presidente da República, em exercício, “Vamos Trabalhar”, em actos reais, criando as condições necessárias para que crianças e jovens não cresçam em salas de aula onde a chuva dita as regras do dia.

As imagens de crianças aglomeradas em salas sem cadeiras, sem carteiras e, por vezes, sem sequer um quadro, não são novidade para o povo moçambicano. No entanto, revoltante é que passam-se anos e parece que essas condições são encaradas com normalidade por aqueles que detêm o poder da mudança.

O investimento em educação deve continuar a ser tratado como prioritário. Enquanto o Ministério da Educação se concentrava na compra de viaturas, os ministros e outros representantes governamentais viajavam para conferências internacionais e discursavam sobre o progresso do país, os alunos moçambicanos, no terreno, continuam a escrever no chão, fazendo exames com os pés na água, abrigando-se de chuvas e ventos dentro das próprias salas de aula.

Os números não mentem. Moçambique é um país jovem, onde quase metade da população está em idade escolar. Se há um futuro para esta nação, ele reside precisamente nessas crianças e jovens.

Contudo, como esperar que uma geração cresça com conhecimentos sólidos e capacidades críticas quando o próprio ambiente escolar nega-lhes dignidade? Como cobrar desempenho de alunos que precisam sair mais cedo da escola porque as salas inundaram após uma breve tempestade? Ou que não podem ir à escola porque está alagada. Como exigir um sistema de ensino eficiente quando o básico, infra-estrutura segura e adequada não está garantido?

 Está a entrar chuva na sala 6! O Governo deve ser responsabilizado, o problema da educação em Moçambique não se resume à falta de recursos, mas sim à má gestão dos mesmos. Num país onde se gastam milhões em projectos, muitas vezes de utilidade questionável, onde se constroem edifícios governamentais luxuosos e se multiplicam os gastos públicos supérfluos.

Chamo aqui à responsabilidade do Governo, com especial atenção à Sua Excia. Ministra da Educação e o Presidente da República. Chamo atenção Excias, que não se pode aceitar que crianças continuem a estudar em escolas sem telhados ou sentadas em pedras.

Está a cair água na sala 6, mas também está a desmoronar-se o futuro de Moçambique. Se o Governo não assumir a sua responsabilidade e não investir verdadeiramente na educação, as próximas gerações continuarão a crescer na ignorância, perpetuando o ciclo de pobreza e subdesenvolvimento.

Ouvi, este Domingo, a entrevista de Sua Excia. Presidente da República, Daniel Chapo, e mencionou, entre vários aspectos, o desafio de termos moçambicanos que ainda não falam a língua oficial, e uns nem acesso à escola têm! O momento de agir é agora Excia., antes que toda a escola desabe.

Eu acredito.

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