Segunda-feira, 10 Março, 2025
Início » BELAS MEMÓRIAS: A fórmula divina

BELAS MEMÓRIAS: A fórmula divina

Por Jornal Notícias
181 Visualizações

NA verdade, esta é uma tentativa de esquivar-me da acusação de plagiadora de títulos. Mas a inspiração – não deixarei de dizer – busquei na “Fórmula de Deus” , título da obra do jornalista e escritor português José Rodrigues dos Santos, a quem vai a minha vénia.

A obra, que é também a prova científica da existência de Deus, leva o leitor para uma surpreendente viagem até às origens do tempo, à essência do Universo e ao sentido da vida.

A minha viagem é bem curta. Ela acontece por aqui, envolvendo uma amiga de coração daquelas que na gíria contemporânea, associada aos empréstimos linguísticos, se chama “best”, encurtando best friend, que na língua de Camões quer dizer melhor amiga.

Sim, a minha best teve que parar ao bloco operatório de um hospital da praça, onde, em jeito de brincadeira, diz ser um palco onde se ensaia a morte e se regressa à vida, uma vez que os que lá entram sempre ou quase sempre experimentam o exercício de abstracção do mundo dos vivos, ao perder, por algum tempo, a capacidade de raciocinar tal como os humanos, até ao fim do procedimento que para lá os levou.

A minha amiga contou-me, com certa mágoa, um episódio que ia lhe custar a desistência do tratamento, precipitado pela atitude repugnante de dois profissionais, que acredito serem, uma vez confiados aquela missão tão complexa de resolver problemas também complexos da vida de outrem.

Quase a jeito de Jesus Cristo crucificado, com os braços já esticados a lembrar o filho de Deus na Cruz, ela entrava intimamente em contacto com o pai celestial de quem esperava, acima de tudo, o adiamento do seu encontro com ele, embora aquela pudesse também ser uma forma de acelerar esse encontro.

Enquanto orava, silenciosamente, a pedir ao pai lá do céu que tudo desse certo, a sua prece foi bruscamente interrompida. Razão: os dois profissionais não se entendiam em relação à fórmula

para o cálculo da quantidade de anestesia a aplicá-la. Discutiam sobre os elementos que fazem parte e discordavam em relação à metodologia.

Isso foi um choque para a minha amiga que, felizmente, só não interferiu no processo por uma questão de autocontrolo. É que o desespero já tinha tomado conta dela e os seus nervos à flor da pele. Vontade de pedir cancelamento falava mais alto, mesmo ciente das implicações que isso traria.

Fez das tripas,coração. Conteve-se até que o veredicto aconteceu e entrou para a “viagem” reversível.

Em voz bem alta conta que os dois faziam valer as suas valências no tocante à fórmula para o cálculo da quantidade da anestesia a administrar. Um dos intervenientes evocava sempre o nome do outro, na tentativa de o convencer que a maneira certa era a que estava a usar, pois assim tinha aprendido. Não se chegava a consenso e a lado algum. Era a palavra de um contra a do outro.

O tempo psicológico pode ter sido curto, mas dada a aflição, a minhabest confessa que não foram poucos os minutos da conversa, sem consenso. Para ela, das duas pessoas, uma poderia estar errada ou, na pior das hipóteses, as duas. Não admite que ambos profissionais estivessem certos, pois não teria havido espaço para tanta discussão.

Qual das fórmulas vingaria? A correcta ou a errada? Poderia essa fórmula ser a porta de  entrada para casa de Deus ou para regresso, com vida, à casa dos seus pais biológicos?

Fazendo jus ao que a minha amiga me contou, num ambiente de pressão pelo trabalho, não poderiam, os dois profissionais, escolher o melhor canto para discutir os seus conhecimentos, a não ser na cabeceira de quem estava preste a ser submetida à cirurgia?

Leia mais…

Artigos que também podes gostar