PERCEPÇÕES: Siga-se o exemplo! - Salomão Muiambo (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)
CERCA das 23 horas de um belo dia fui interpelado pela Polícia, algures no bairro do Khongoloti, município da Matola, no regresso à casa, ido da faina.
Delicadamente, os agentes saudaram-me e quiseram saber da saúde ao que lhes respondi que estava tudo bem. De seguida, perguntaram-me de onde vinha e para onde ia àquela hora da noite, em plena vigência do recolher obrigatório, na região do Grande Maputo, severamente afectada pela pandemia do novo coronavírus. Aliás, os números de infectados, hospitalizados e de óbitos falam por si, ou seja, colocam as cidades de Maputo e Matola e os distritos de Boane e Marracuene (Grande Maputo) na dianteira, à escala de todo o país.
Ora, sem rodeios, expliquei-lhes que regressava à casa, depois de uma longa e pesada jornada de trabalho. À pergunta sobre qual era o meu trabalho, respondi-lhes, taxativamente, que era semelhante ao deles, que obrigava a estarem fora de casa àquela hora. Os agentes rapidamente compreenderam que não se tratava de nenhum prevaricador do decreto do Conselho de Ministros atinente à contenção da Covid-19, mas tão somente de um indivíduo ingénuo, cuja profissão obriga, tal como a deles, estar na rua em pleno período do recolher obrigatório. Foi uma conversa amena, sem o violento “watxi passe”, ou seja, documentos?
Do local onde fui interpelado para os meus aposentos havia alguns, ainda que poucos, quilómetros por percorrer. Porém, os agentes, compreendendo a natureza delicada do meu trabalho e temendo por eventuais incursões dos amigos do alheio propuseram-se escoltar-me até as imediações da minha casa ao que delicadamente, agradeci o gesto, desejando-lhes a continuação de um bom trabalho.
É uma história curta, porém, prenhe de didactismo. Nos dias que correm é muito raro encontrar agentes comprometidos com o seu trabalho. Em condições (a)normais naquele dia teria passado por sevícias e extorsões sob alegação de ter violado o recolher obrigatório.
São várias histórias que nós vivemos e/ou ouvimos de agentes que vivem e sobrevivem na base de cobranças ilícitas. Transgrediu o código de estrada, paga e vai embora. Violou o decreto do Conselho de Ministros atinente as medidas de contenção do novo coronavírus, paga e vai embora. Enfim!...
Quis partilhar esta pequena história, simplesmente para dar a entender que nem sempre quando um peixe dentro da caixa está podre, todos nela contidos estejam igualmente podres.
Restam sim, agentes que trabalham com brio e profissionalismo e dignificam o fardamento que envergam. Siga-se o exemplo pela honra e prestigio da corporação.
Até para a semana!