20.1 C
Maputo
Quarta-feira, 27 - Março, 2024

Cá da Terra: As dúvidas dos chapeiros

+ Recentes

Troço Montepuez-Mueda int...

Brigadista assassinado na...

Ponte de Baltimore colaps...

Prevalece chuva forte e t...

Osvaldo Gêmo – Osvaldoroque7103@gmail.com

O rio Yang Tsé, o maior rio da China e o terceiro do mundo, surge como uma das principais recordações das aulas de geografia no ensino secundário. Como muitas das lições de então, as referências sobre o Yangtzé, continuam presentes.

Não é por acaso que sempre que tenho a oportunidade de me deslocar a  China, não deixo de entrar em contacto com esta grande massa de água ou, no mínimo, com o sistema com o qual ele está relacionado. Com a globalização, o Yang Tsé deixou de ser apenas Chinês, para ter um papel crucial para a economia global.

O rio cobre 19 províncias chinesas e fornece água para quase 600 milhões de pessoas. A sua bacia é responsável por 45 por cento da produção económica do país. Basta referirmo-nos a Xangai e Sichuan, como parte deste complexo aberto para o mundo.

Este ano chegam informações de que este grande rio está com níveis alarmantemente baixos, devido a uma seca sem precedentes. Este cenário acontece num contexto de uma onda de calor que já dura dois meses e é a mais longa da China, pelo menos desde que há registos no Centro Nacional do Clima.

Esta é uma situação vivida não só na China, como também em vários continentes, em particular na Europa e na América, que se segue a uma devastadora pandemia da Covid-19.

A ONU indica que, actualmente, mais de 2,3 bilhões de pessoas enfrentam estresse hídrico em todo o mundo, e até 2050, a seca pode afectar mais de 75 por cento da população global.

A desertificação, rios secos e favorecimento de incêndios florestais é um cenário que deverá ser repetitivo, nos próximos anos, agravado sobretudo pelas mudanças climáticas.

Como consequência do aquecimento global, os verões cada vez mais quentes e longos favorecem situações extremas, como a ausência de chuva em determinadas regiões como aconteceu com as excepcionais ondas de calor na Europa que causaram queimadas em 660 mil hectares — um recorde para o período desde que os dados de satélite começaram a ser registados, em 2006.

O rio Tâmisa, no Reino Unido e o Reno, na Alemanha, são palco de um cenário nunca antes visto, pelo menos pela nossa geração, afectando inclusivamente as rotas fluviais.

Nos EUA, também afectado pela onda de calor extremo, a estiagem agora atinge 42 dos 50 estados, sobretudo no Sul do país.

Estes são fenómenos globais para os quais nem sempre estamos preparados para entender e partir para a acção.

Vem este arazoado todo a propósito de uma conversa do “Chapa”. Com o bolso “seco”, devido as mudanças que não são climáticas, mas impostas pelo custo de vida, não raras vezes recorro ao “chapa”, lá onde a criatividade na interpretação do quotidiano permanece sempre florescente, com ou sem mudanças.

Não é que o “louco” do cobrador chama a atenção para uma senhora que acabava de embarcar queixando-se do excessivo calor que fazia.

É melhor ir se acostumando, cunhada. Os próximos tempos serão ainda piores- dizia o cobrador.

O que é que vai acontecer?- questionou a “cunhada” do cobrador.

As temperaturas vão continuar a subir, os rios vão secar e as florestas não vão parar de arder. É o fim do mundo- sentenciou o cobrador.

Mas isso também vai nos afectar? Estamos mal…- continuou a senhora.

Os bombeiros de todo o mundo vão ser mobilizados para apagar as florestas, para bombear água do mar para dar de beber as pessoas e regar os campos. Vai chegar um tempo em que a água do mar também vai acabar- afirmou o cobrador todo senhor de si.

Shiiii! Água do mar acabar? Essa é obra de Deus, não pode acabar…-retorquiu a senhora.

Toda esta conversa decorreu em Xichangana, com a cadência e ritmo que dificilmente posso conseguir traduzir e muito menos o final da estória, porque tive que desembarcar.

Também continuo na dúvida. Poderá a água do mar acabar? Quem diria que o Yangtzé poderia secar? Os cobradores dos chapas são peritos em criar dúvidas nas pessoas, incluindo aos que estudaram um secundário como o meu.

- Publicidade-spot_img

Destaques