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DIALOGANDO: Por favor, não insultem o povo!

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MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

UMA vez dissemos aqui que não eram poucas vezes que se ouvia dizer da boca, por exemplo, de um político, dirigente, artista, futebolista, empresário e outras personalidades, elogios, exaltação e agradecimento ao povo, em reconhecimento a sua contribuição para o sucesso das suas actividades.

Porém, referíamos que às vezes se questiona se será que esse povo é aquele que queremos que realmente seja; ou será que esse povo moçambicano não é aquele que era após a proclamação da Independência Nacional, mas sim, é aquele que agora ou sempre procuramos apenas explorar a sua mente em nosso próprio benefício?

É que, do que sabemos, isso de falar do povo tem muito que se lhe diga, sobretudo quando o povo é visto apenas como uma espécie desprezível ou de gente menor, e não queremos acreditar que seja o caso em Moçambique, onde ainda continuamos a lutar, mesmo com alguns obstáculos, pelo efectivo respeito das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos de um país livre.

Isso para dizer que, se ao elogiarmos, exaltarmos e agradecermos o povo moçambicano, estamos cientes também de que referimos aquele povo que esperou demais e aspira rápida solução dos seus problemas mais prementes, então, valorizamo-lo e vale a pena continuarmos a falar dele. Se fazemos sem que tenhamos a cabeça no lugar, por estarmos por exemplo, a ser julgados no tribunal, então estamos a ser injustos para com ele (povo).

O intróito vem a propósito de, no julgamento das dívidas não declaradas, estarmos a ouvir, descaradamente, alguns arguidos, afirmarem que o “povo moçambicano quer a verdade e, por isso, que estão a explicar para o povo saber, porque este Governo quer prejudicar o povo, forjando os documentos”, fazendo entender que esse povo está ao lado deles, o que acreditamos não corresponder à verdade.

É preciso que os réus não sejam espertos como raposas, mas sim, pensem seriamente e de forma responsável que o povo moçambicano só será um povo que se quer que seja quando tiver um país efectivamente de oportunidades iguais, sobretudo em termos da distribuição de riqueza que o país possui, e não através do roubo ou corrupção, que beneficia apenas aos corruptos, como é o caso vertente. Não podem agir buscando enganar o povo perante o tribunal.

Ter um país efectivamente de oportunidades iguais passa também pelo cumprimento, por parte dos órgãos da justiça, do seu papel, pondo termo à impunidade prevalecente que é uma das causas das desigualdades sociais. Por termo impunidade significa condenar, de forma exemplar, os arguidos que não terão pensado nessas perspectivas, envolvendo-se no escândalo financeiro de que estão a ser julgados, em detrimento desse povo.

Não esqueçamos que o povo moçambicano foi altamente prejudicado, em benefício de uma minoria que se terá apoderado do dinheiro das dívidas ocultas. Até porque, seja o que for que venhamos dizer ou optar para este povo sacrificado, nada fará sentido se não for recuperado o dinheiro e feitos os investimentos necessários com ele (dinheiro).

Acreditamos que se os réus tivessem o orgulho de fazerem parte do “querido” povo moçambicano, que os leva a gritarem a plenos pulmões em sede do tribunal, talvez não fossem capazes de cometer tamanha falcatrua que levou a suspensão do financiamento do Orçamento do Estado por parte dos parceiros de cooperação.  

Talvez valha pena citar o antigo Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Abraham Lincoln, que disse que a “riqueza de uma nação mede-se pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”. As dívidas ocultas agravaram a situação de pobreza desse povo que os que desviaram esse dinheiro dizem, de forma descarada respeitar.

As dívidas ocultas adiaram a materialização de grandes opções credíveis de solução desses infortúnios para um futuro melhor que se almeja e que possa reforçar a sua (povo) auto-estima. Acredita-se que em muitos aspectos da vida social e económica do país, não estaríamos como estamos hoje, se não tivessem havido dívidas ocultas.

É grande insulto, um arguido das dívidas ocultas dizer, em tribunal, que respeita o povo moçambicano, sabendo de antemão que o prejudicou com esse roubo que lhe levou ao banco dos réus. Que os réus façam das tripas coração, mas sem menosprezar o povo moçambicano que está muitíssimo atento e à espera da condenação exemplar dos que for provado o seu envolvimento no roubo do dinheiro.