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Quarta-feira, 27 - Março, 2024

DO CANTO DOS SEIS “C’s”: Dôa (Concl.)

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César Langacesar.langa@snoticias.co.mz

DEPOIS de um longo percurso, numa estrada bastante penosa, a partir do cruzamento de Madamba, antes da sede distrital de Dôa, que, por coincidência, também tem o mesmo nome, encontra-se a localidade de Chueza. Tinha estado lá, há alguns meses, para a cobertura da cerimónia do plantio de árvores, organizada pelas autoridades ambientais, ao nível da província. Mas esquecia-me de referir que Chueza está a 20 quilómetros da vila de Dôa.

A população local diz que é perto da vila-sede, porque faz o percurso a pé, quando procura serviços na “capital” do distrito, mas são 20 quilómetros que quase duram uma eternidade, mesmo percorridos de carro. Para além da estrada que atravessa a localidade e alguns edifícios onde funciona a sede, muito pouco se pode ver em Chueza. Mas há vida e felicidade. Fazem-se festas, dança-se Nyau e refrescam-se gargantas com bebidas feitas localmente.

Mas também notei que as pessoas passam por necessidades. Nem todas as famílias conseguem ter um prato de comida, na mesa, com regularidade, sendo o rosto desta ausência crianças e adolescentes. Vi estes menores a disputarem prato de comida, valendo a regra do mais forte.

Nesse dia, durante o almoço que se serviu pela ocasião, algumas almas caridosas iam dando sobras de comida dos seus pratos. Os beneficiários, de preferência, eram os mais novos, visivelmente indefesos e incapazes de arrancar um punhado de arroz do prato do outro, mas depois percebi que estes meninos eram obrigados a apresentarem os pratos que lhes fossem oferecidos aos mais fortes. É que quem não o fizesse, estava sujeito a uma punição, que inclui boas chapadas. Como disse, é a lei do mais forte que prevalece.

Chueza e Dôa são terras onde abundam paradoxos. A população vive da agricultura, mas não chove regularmente e aí passa a depender de alimentos adquiridos em Moatize ou Tete. Alguns carros partem suspensão antes de lá chegarem com os produtos de primeira necessidade. Mas, quando chove, é outro dilema, tal como fiz referência na semana passada.

Na educação, não sei quais são os critérios de gestão de ensino, mas alunos com 10.ª classe concluída não sabem ler. Alguns depois se tornam alfabetizadores locais, numa gritante maratona de eternização de deficiências cognitivas, porque estes professores  precisam, eles mesmo, de professores. Mas, curiosamente, é nestas latitudes onde também se aposta na utopia do ensino à distância. A população de Dôa é a mesma para tudo. Quando há realizações populares, que exigem a concentração de pessoas, tanto em comícios quanto em espectáculos musicais, outras actividades páram, incluindo a comercial: as lojas e barracas ficam encerradas. As pessoas correm para lá, deixando parte da vila deserta, para onde regressam só no final do evento, altura em que se retoma à vida normal. Todos sabem, e por isso ninguém se queixa. Esta é a base de Dôa, o novo distrito da província de Tete, em busca de inserção neste Canto dos Seis “C’s”.

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