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Sexta-feira, 29 - Março, 2024

DO CANTO DOS SEIS “C’s”: Máquinas de calcular nas padarias

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César Langa: cesar.langa@snoticias.co.mz

NOS meus primeiros anos de escolarização, a nossa professora havia criado uma espécie de actividade de ambientação, enquanto ela não chegasse à sala. Essa ambientação consistia na exercitação mental da tabuada. O chefe da turma, aleatoriamente, lançava perguntas sobre diversas operações, desde adição até à divisão, aos colegas, que deveriam responder de imediato. Quem não acertasse, ou não respondesse em fracção de segundos, era penalizado por uma varra nas costas. Era um exercício que exigia uma extraordinária flexibilidade mental.

Nesses mesmos tempos, os nossos professores não nos ditavam apontamentos. Passavam-nos no quadro, para copiarmos, acto que constituía um duplo exercício: copiar a informação para o caderno e saber como se escrevem as palavras, porque os professores não queriam ver erros ortográficos nos cadernos, sendo que, para aferir a escrita dos alunos, também havia um exercício chamado ditado. Lembro-me que muitas vezes competíamos, quando fizéssemos ditado, sendo vencedor aquele que não tivesse um erro sequer. Por isso, muitos sabiam escrever correctamente e sabiam fazer cálculos mentalmente, sem precisar de recorrer aos dedos.

Com o passar das décadas, estes exercícios foram sendo subalternizados, autorizando-se até o uso de máquinas de calcular durante à realização de provas, no ensino primário e secundário. Podem chamar a isto saudosismo, ou conflito de gerações, mas a verdade é que máquina de calcular não era admitida nas escolas primárias e secundárias, “nesses tempos”, porque os alunos deviam ter a capacidade e flexibilidade de fazer cálculos e escrever correctamente.

Com este défice do saber fazer, a lista de consequências não pára de crescer. E por conta disso, muitos serviços são prestados de forma muito lenta. Actualmente, procurar serviços bancários é o mesmo que dar o dia laboral por perdido, num total paradoxo com a tentativa de modernização de diversos serviços.

Caricato é que grande parte dos actuais gestores do sector da educação têm dito, repetidas vezes, em conversas de café e eu cito: “Nos nossos tempos os alunos não eram assim”. Por isso, eu pergunto a eles mesmo: “Por que não mantêm os padrões de ensino “desses tempos” que fizeram de vós grandes quadros que são actualmente”? E a resposta nunca aparece.

Grande dilema, agora, verifica-se nas padarias, devido às constantes mudanças do preço do pão, vendido por pessoas que não conhecem a tabuada. Para saberem quanto se paga por cinco pães de oito meticais cada precisam de recorrem à máquina de calcular, que lhe deve “ensinar” até quanto se deve dar de troco, em caso de necessidade.

Mais caricato ainda é que, fazendo este exercício diário, estes vendedores de pão não sistematizam a multiplicação de oito, número com que lidam todos os dias. Há casos em que dois ou três clientes que se seguem queiram a mesma quantidade de pão, mas o bom do vendedor vai precisar, também, de recorrer três vezes à maquineta, para fazer a mesma operação. E enquanto duram estas contas, com recurso à máquina de calcular, as filas, nas padarias, vão crescendo aumentando o tempo de espera. Não vou apontar as padarias onde os vendedores não sabem fazer o cálculo mental, porque são quase todas, cá neste Canto dos seis “C’s”.

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