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Professor…. sempre ele!!

RESGATAR o papel e a importância de um professor, seja na escola, comunidade e até na sociedade em geral, deveria figurar na principal linha de qualquer agenda estratégica do nosso país. A sua influência tornou-se cada vez mais decisiva e ao mesmo tempo vulnerável, sobretudo pela velocidade com que as transformações sociais estão a impactar no seu papel de líder e base do processo de ensino e aprendizagem. Igualmente, a missão de um professor vive actualmente uma espécie de ameaça, porque está envolto de uma incompreensão por parte da sociedade, paraalém do pouco espaço que lhe é dado para se fazer ouvir. O pai, aluno, comunidade e entidade gestora, todos estes assistem e vivem as mudanças em curso à alta velocidade, mas ignoram ou se negam a discutir com profundidade e de forma terrena sobre o tipo de professor que temos e queremos, a relevância dos métodos actuais, os instrumentos colocados à sua disposição. É este professor que a cada dia perde o papel de segundo pai na escola e na comunidade escolar. É o mesmo professor que foi formado para uma realidade, mas pouco preparado para um contexo que lhe mais adverso, sobretudo porque as dimensões de contrato social professor-comunidade estão cada vez mais em desuso. 

French e Raven são investigadores que recomendam o estudo de quatro grandes factores de influência dos professores sobre os alunos: o reconhecimento do estatuto do professor pelos alunos; o reconhecimento pelos alunos da competência do professor nos conhecimentos que este lhes pretende ensinar; o reconhecimento de certas qualidades pessoais e interpessoais no professor, apreciadas pelos alunos, desenvolvendo-se processos de identificação. Sem desprimor de outras, considero estes factores muito importantes e que deveriam ser objecto de um estudo aprofundado para o seu resgate.

No passado, os alunos deixavam-se influenciar pelo professor por aceitarem pacificamente o seu estatuto, por o considerarem competente na área de conhecimentos que devia ensinar e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou punir através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina, não sendo postas em causa as decisões tomadas pelo professor a este nível. Actualmente, muitos alunos não se deixam influenciar pelo professor apenas devido ao facto de ser o “senhor doutor” ou “senhor professor” a sugerir.  Desvalorizam a escola como fonte de acesso ao saber ou conhecimento, colocando muitas vezes em dúvida a competência do professor, para além deste também ter vindo a perder poder no que diz respeito à capacidade de gestão da aprendizagem e da disciplina dos alunos.

A identificação do aluno com o professor passa muito pela satisfação obtida na relação estabelecida, mas parece haver uma deficiente compreensão na relação pedagógica, sendo importante que os professores se aproximem das necessidades relacionais e de desenvolvimento dos alunos, no sentido de os conseguirem influenciar ou motivar para o alcance dos objectivos da educação escolar no plano cognitivo. No passado, os alunos tinham que se adaptar aos métodos dos professores, mas actualmente o professor deve procurar ir ao encontro dos interesses e da linguagem dos alunos, sendo flexível e dando o exemplo.

Estas preocupações que trago visam incluir no rol dos debates que deveriam ser feitas sobre o professor. A sua formação não deveria limitar-se às componentes pedagógicas.  As mudanças em curso, os modelos de formação e colocação, o recrutamento, a formação em exercício e outras capacitações regulares deveriam ser incluídas nestes debates, porque o professor está a carregar um fardo de exigências como se todos não compreendêssemos a pressão a que está sujeito. Pressionar os instrumentos de ensino com mais matérias novas já o fazemos. Seria igualmente produtivo e mais contributivo observar tudo o que anda à volta do professor na sua missão de ensinar.

O professor é a chave de tudo isto. Seja na escola rural ou urbana!

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