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Quinta-feira, 28 - Março, 2024

Sigarowane: E houve mais

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TENHO de ir a um jantar a que fui convidado e não posso, de forma alguma decliná-lo. Nem sequer tinha razões para tal, para além de que era uma oportunidade para a lábia, para carícias aos tímpanos. Tinha de me compor ao jeito e sem a dispensa da gravata, que sempre me transmitiu a ideia e o sentimento de alguém decidido a suicidar-se. Há de convir que o tal jantar, também significava uma poupança nos custos com a alimentação, que seria ao nível de duas refeições, o que seria igualmente válido para o outro convidado, muito andado nestas vidas.

Desembrulhei-me de tudo e fiz um duche rápido. Liguei a chaleira eléctrica. De uma lata de café, tirei duas colherinhas para uma chávena. Já a chaleira grunhia continuamente e depois um estalido. Água fervente na chávena e tudo ficou castanho. Muito devagarinho fui sorvendo o fumegante líquido até apenas uma gota no fundo. Não lavei a chávena. Levantei-me e dirigi-me à porta e já no longo corredor tratei de localizar a lanterna no celular para me auxiliar na localização dos números no ascensor. Há isto e mais coisas já a falharem, o que não acontecia há algumas décadas, mas esta é a natureza.

Ainda no elevador, comecei a sentir a necessidade de comer. Estava com fome e pouco passava da hora doze. Tinha o restaurante do hotel, mas não estava com muita vontade de falar e lá trabalhavam um italiano e um brasileiro que se simpatizaram comigo, se calhar pela proximidade linguística, ou mera simpatia pelos não locais, e puxavam sempre por uma banal conversa, de que não me arrependia e estimulava. Cruzei a porta do hotel e do outro lado da rua, estava Nalinda sentado ao volante de um Mercedes preto. Dei a volta e abri a porta do passageiro. Numa esplanada, à hora com pouca gente, disse da fome que me consumia e que um robalo ou uma pescada do mediterrâneo poderia resolvê-la. Não sei o que pediu Nalinda, que o convidei para almoçar, mas nada de extravagante sempre recordado de Sri Lanka, onde caiu o seu cordão umbilical. Só olhei para o prato dele, andava eu já meio cheio. Na mesa à esquerda, um casal bem entrado na idade tomava a sua refeição em animada conversa, mas no final cada um pagou a sua conta. Deu cá uma mexida no estômago, esquecido de que estava do outro lado da alma, como alguém há-de ter dito. A frente e à direita, uma loja de troca de moeda. Entravam e saíam pessoas, algumas com maços de dólares à vista, na mão, e caminhando tranquilamente. Mas juro que não me recordei de Xipamanine nem de Mandela nenhum. Ri tanto de mim e por milhentas vezes me chamei parvo.

Já deixou na mesa, o garçon, a garrafinha de vinho. Daquelas pequenas, que convém quando é para um, sobretudo em lugares como aquele. Era do bom, mas tornou-se horrível quando o seu custo se apresentou num papel rectangular e em letras cinzentas. Setenta dólares. Setenta não é um número por aí além, mas quando é considerado noutro hemisfério.

Nalinda teve de ir acorrer a uma situação e tive de terminar a refeição sozinho. Estava a dezenas de metros do hotel, portanto, poucos minutos de caminhada, mas tal não aconteceu pois justo na disposição de arrancar, o Mercedes estacionava.

Dormí à tarde e só acordando às quatro e trinta, já que a partida para o local do jantar estava aprazada para às cinco e um quarto, da tarde. E a essa hora, Nalinda tinha o carro estacionado em frente do hotel. O sol se pôs ainda não conseguimos deixar Manhattan por conta do intenso tráfego, mas lá íamos rolando com as nadegueiras depositadas em estofos preto, de circunstância. Estou sentado atrás do Nalinda, mas não o vejo a cabeça. Olho para o lado e o vidro deixa-me ver o Hudson brilhando, nos pontos que a vegetação deixa, por conta das luzes. De carros ou de postes de iluminação pública. Tem as águas em grandiosa serenidade. Não consigo ver a outra margem e as suas verdes colinas. Vai ter de ficar para outra vez e com o sol ainda a brilhar.

O que já foi um campo de ténis, um grande canil. Uma mesa de mármore bem monstra, são gotículas num quintal todo ele de chão verde. E então a esperança de um bom jantar.

O champanhe e as castanhas ou amendoins precederam o faustoso jantar regado de bom vinho, que de nada vale esconder. Até porque não se tem todos os dias, por isso momentos a sublinhar.

E boa conversa. Até no regresso ao hotel para esperar pelo dia seguinte.

Convidado a um jantar.

E houve mais.

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