Domingo, 22 Dezembro, 2024
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BELAS MEMÓRIAS: De volta ao  “Bem-Amado”

Por Jornal Notícias
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PARA a actual geração pode ser descabido contar que comunicar com familiares distantes, via telefónica, já implicou marcar a data e ir à casa dos pouquíssimos detentores do telefone, este instrumento cuja invenção atribui-se a Alexander Graham Bell. Mas é uma pura verdade.

É que se contava, aos dedos de uma mão, as famílias que tinham telefone fixo em casa ou melhor, telefone, pois nem se quer se sonhava com outras versões mais avançadas que quase todos hoje, de alguma forma, têm acesso, entre os nativos e os migrantes digitais.

Tal como receber um telefonema implicava ir à casa alheia, o mesmo aconteceu em relação à televisão nos anos 80, em Moçambique, com a entrada da Televisão Experimental, a actual Televisão de Moçambique (TVM). Muitos, entre jovens, crianças e adultos iam todas as noites para a casa dos vizinhos de modo a não perderem um único capítulo da primeira telenovela brasileira rodada em Maputo, o “Bem –Amado”.

Embora não tivessem televisor, os vizinhos tinham na novidade uma grande atracção senão único entretenimento áudio-visual e assim identificavam-se com personagens como Zeca Diabo, Dr.Leão, Odorico, Chico Moleza, Dulceneia, entre vários.

Era preciso ver o que aconteceria no capítulo seguinte, espevitado pelo fim do anterior, nem que isso implicasse importunar os donos da casa que tinha o aparelho televisor. Sim, abrir as portas aos vizinhos da zona chegou a ser embaraço, pois isso matava a privacidade.

Perdiam privacidade no momento das refeições porque não podiam comer às vistas. A cozinha passou a ser o refúgio e não acomodava a família toda, que passou a comer isoladamente. É que, como mandam os nossos costumes, quem toma refeição diante de um visitante, no mínimo, deve o convidar.

A privacidade não havia igualmente na hora de dormir, uma vez que depois da telenovela, os viciados ficavam até ao fecho da emissão ou para outros programas da África do Sul e Suazilâdia, actual E-Swatine. Assim, os anfitriões saiam de uma vez porque mesmo com insistentes bocejos a anunciarem o basta, os visitantes não ligavam a mensagem e permaneciam. Para a segurança da casa, havia sempre um membro da família sacrificado para desligar o televisor com a saída do último telespectador.

Mesmo diante de sinais como estes, os visitantes não vacilavam até à inclusão, com a massificação destes aparelhos no mercado, ao ponto de a maioria das famílias, tanto do meio urbano quanto suburbano, serem detentoras de um televisor.

Levou-me a esta viagem ao tempo, concretamente aos primórdios da Televisão em Moçambique, o acontecimento da última sexta-feira, quando houve o corte do sinal de Internet, excepto para os conectados ao wi-fi ( uma tecnologia de rede sem fio que serve  para fornecer acesso à internet para dispositivos como computadores, smartphones tablets e Samrt TVs, dispensando o uso de cabo da rede).

A juventude, habituada a viver com os megabytes, à mão de semeiar, sofreu momentaneamente com o “bug”. Entrou em parampas, porque a sua vida anda condicionada à conectividade. Sentiu-se incompleta, com a sensação de um membro do seu esqueleto a menos.

Se “sem água não há vida”, para esta juventude isso pode se equiparar à ausência da Internet que, para ela, é um autêntico “corte de respiração”. Para evitar que tal sucedesse, era preciso buscar soluções. A casa da Madú foi a primeira porta para um grupo de raparigas à busca de conectividade. Lá iam atrás do Wi-fi. Uff, o sossego e a concentração restauravam-se no seu ego.

A visita perdurou até o tempo que se sentiram realizadas com os contactos efectuados. Este episódio só me fez regressar aos tempos do “Bem-Amado”.

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